Seis de Janeiro é dia de Santos Reis e também de celebrar os 265 anos da chegada dos Casais Açorianos a Santa Catarina
Começo o 2013 escrevendo sobre o Dia de Santos Reis e o ritual do Reisado, tradição secular que chegou com os portugueses e que não se perdeu pelos caminhos do passado. Um tempo que ainda é presente nas freguesias, bairros, cidades do litoral e na capital, Florianópolis. O «Terno de Reis» faz parte do Ciclo Natalino e nesta época sai às ruas e vai de porta em porta anunciando e louvando o nascimento do Menino Jesus, a presença da estrela Guia e a chegada dos Reis Magos com seus benditos, loas e “abrições de porta”. Cantadores e músicos munidos de sanfona, violão, rabeca, pandeiro e tambor vão fazendo sua cantoria alegre, versos de “repente”, improvisados, pedindo ao Deus Menino às bênçãos divinas, um próspero ano novo para a família visitada e no final há “comes e bebes” como é o costume do lugar.
Uma tradição que a alma popular catarinense reconhece como parte de sua memória coletiva e marco da sua história cultural, numa convergência de religiosidade e arte popular, mantendo viva num contínuo revitalizar, os bens culturais intangíveis herdados dos povoadores deste chão abençoado por Santa Catarina que, atrás da terra prometida “que emana leite e mel”, arpoaram a esperança, formaram famílias, escreveram a sua (e a nossa) história na terra que os acolheu.
O Atlântico foi o portal de entrada dos milhares de açorianos do século XVIII que cruzaram o oceano trazendo as ilhas dentro de si e a alma banhada no mar salgado. Miseráveis, analfabetos, esquecidos e largados à sua própria sorte e, mesmo assim, com dignidade construíram o futuro e deixaram o seu legado e todo um imaginário enraizado que se reproduz e se expande, nesta esquina oceânica, abaixo do Equador.
No céu uma estrela iluminou o santo Menino deitado nas palhas da manjedoura e orientou os Reis Magos levando-os ao Seu encontro.
Há 265 anos, no dia 6 de Janeiro de 1748, data consagrada aos Santos Reis, iluminados pela estrela da esperança e cheios de sonhos e fé no Novo Mundo, os desbravadores açorianos atravessaram o Atlântico em viagens de medo e morte, chegaram a Ilha de Santa Catarina depositando nesta terra que os acolhia o seu destino. Aqui, foram arquitetos de um novo tempo e construtores de uma Santa Catarina, que é exemplo de trabalho, desenvolvimento e progresso para o Brasil, de um povo altaneiro que porta orgulhosamente as suas tradições culturais vincadas no Atlântico Norte no belíssimo Arquipélago dos Açores.
Lélia Pereira da Silva Nunes
6 de janeiro de 2013