Açorianidade – 122 [Sidónio Bettencourt, “Bailarina”. Mendelsshon, “Danças Eslavas”]
(Ana Botafogo, 2012 -Agencia Fotosite)
BAILARINA
…abre-se o olhar num sorriso de asas e o corpo
balança em pontas
dedos de um grito de deus abandono divino o mar
lágrima fado gaivota e tejo
amar-amália no gesto sublime da dança fôlego
não há país nem viela nem água pura ou janela
que apague tanta luz ao anoitecer
nem claridade que afogue a neblina das manhãs de lava
e fogo adormecido vulcão na ilha morta
ribeira fresca de silêncio melancolia
palavra cânticos voltas e revoltas
voltas sempre cheia melodia
o sonho
pedras secas sargaços figos e uvas
delicadas mãos quando descalças
os pés húmidos das chuvas
escreves sabre a boca
de cena
um e outro e mais outro pas de deux de sereia
perdido outono que desce
dos céus esta alegria contida na areia
e a morte cai serena do poema da partida
abre-se o olhar num sorriso de asa o voo do teu corpo…
Sidónio Bettencourt,
Já não vem ninguém,
Ponta Delgada, Veraçor Editores, 2010.
Sidónio Manuel Moniz Bettencourt (1955), jornalista, escritor, poeta, natural da freguesia de Arrifes, ilha de S. Miguel, reside e trabalha em Ponta Delgada.