PorqueHojeEhSabado
2015.10.31
2015.10.31
A Alcipe
[…]
[…]. Canta o Sol, a actividade
Dos seus raios ardentes que a viveza
De teus esgares rastrear presume:
De Phebe canta a placida beleza,
Retratada no mar ao próprio lume:
Canta a estrella da Deosa que a victoria
Cedera por não ter de ti ciúme:
Canta os Marcios troféos, adonte a gloria
Dos Almeidas envolta, só lhe falta
Que a tu mostres ás Filhas da Memoria:
Canta a Alcipe; não temas que reprove
A Deosa da Modestia. Que mimosa
Imagem a Verdade riscaria
De Pandora em Alcipe! Que harmoniosa
Nos beiços lhe soara a Poesia!
Que graças novas á Virtude dera!
Que meigo o Amor nas mãos lhe ficaria!
Nem sejas com as Musas tão severa
Que as desames, dos olhos espantada
Da que assim te persegue horrenda fera;
É filha da ignorancia, alimentada
Das próprias carnes, que c’o negro dente
Raivosa morde, e a espuma envenenada
Em vão te cospe. Phebo não consente
Que te manche: na lyra victoriosa
Quebra os dentes a Inveja inutilmente.
Assovie co’a língua sanguinosa,
Raive até que arrebente. Á sombra amena
Os beiços trilhe a flauta numerosa,
Abra Alcipe a suave cantilena.
Silvio,
In Obras Poéticas da Marquesa de Alorna,
Imprensa Nacional, Lisboa, 1844-1851.
Tio de Almeida Garrett, foi o primeiro bispo nascido nos Açores a exercer aí a sua missão.
Sílvio é pseudónimo de Frei Alexandre da Sagrada Família* (1737-1818), bispo, natural da então Vila da Horta, ilha do Faial. Trabalhou em Luanda e Angra do Heroísmo onde veio a falecer.