Simplesmente Onésimo
João Maurício Brás é Professor, doutorado em Filosofia pela Universidade Nova de Lisboa e Investigador no CLEPUL (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa). Tem vários livros publicados e conheceu Onésimo Teotónio Almeida em 2010. Foi no final de uma conferência. Período de pergunta resposta. João Maurício Brás fez a pergunta e Onésimo, percebendo o que ali estava, disse que a resposta não podia ser dada no momento, por ser vasta e ultrapassar o âmbito do tema da conferência. Mas que tinha gosto de conversar sobre o assunto. E conversaram. Como diz Onésimo, a conversa nunca mais acabou, e já se passaram cinco anos. E nesses cinco anos João Maurício Brás já publicou três grandes livros sobre Onésimo: Utopias em Dói Menor, Onésimo, Único e Multímodo e Identidade, Valores, Modernidade – O Pensamento de Onésimo Teotónio Almeida.
Na passada sexta-feira, com Onésimo em São Miguel, em mais um regresso de quem está sempre presente, foi tempo de um encontro de Amigos, na Livraria Solmar, com José Carlos Frias sempre atento e dedicado anfitrião, para uma informal apresentação do Onésimo, Único e Multímodo e do Identidade, Valores, Modernidade. Vamberto Freitas, referência obrigatória quando se fala de recensão e crítica literária nos Açores, fez a apresentação dos livros, cabendo a Osvaldo Cabral, jornalista, antigo Director da RTP/Açores e actual Director Executivo do jornal Diário dos Açores, falou sobre Onésimo e o Pico da Pedra, as influências culturais que o ambiente de infância e juventude podem ter na personalidade e no caminho do sucesso e do saber. Foi um pouco de “lavar a alma” de recordações e de sentimentos, porque disto mesmo se faz o viver e o pulsar da terra em cada um de nós.
E, como sempre, Onésimo, em tempo sem minutos contados, prendeu a atenção de todos, de tal forma que o que poderia ser uma simples apresentação de dois livros sobre ele próprio, tornou-se num inesquecível momento de “beber histórias” temperadas de humor e amor, como só ele sabe fazer, com a sua arte de comunicar e memória de guardar os tais pormenores que aguçam o sabor da palavra.
Onésimo, Único e Multímodo, foi minha leitura no mês de Março deste ano, tinha ele sido apresentado dias antes no decorrer da XVI Edição das Correntes d’Escritas, na Póvoa do Varzim. Chegou-me pelas mãos da minha querida Amiga Lélia Nunes, que vive ali na Esquina das Ilhas, em Florianópolis e que foi a apresentadora do livro. E é sobre ele que escrevo aqui hoje, nestas Leituras do Atlântico, porque só agora vou começar a saborear o Identidade, Valores, Modernidade, no qual João Maurício Brás trata o Pensamento de Onésimo Teotónio Almeida.
Sobre o “Único e Multímodo”, apenas posso dizer que é um conjunto de 45 testemunhos de várias partes do mundo, sobre a personalidade e a obra de Onésimo. E como escreve Lélia Nunes, “é consenso entre os 45 autores que a sua obra constitui uma unidade temática visível sob diferentes géneros e matizes. O escritor João de Melo descortina essa singularidade – de “Único”, ao mesmo tempo que reconhece a dificuldade de pensar nele “como um só” porque vê escancarada a sua pluralidade “Multímoda” e, assim pensando, nomeia o título do seu texto, que acabou intitulando o livro: “Único e Multímodo”. O livro mostra o valor da obra de Onésimo Teotónio de Almeida, aponta a importância de se conhecer, ler, estudar e, acima de tudo, promover o debate de suas ideias e propostas. Soma-se a tudo isso a sua incrível capacidade de contar anedotas, piadas e fatos corriqueiros que, na boca do Onésimo, viram acontecimentos dignos de uma salva de tiros. Aí é que reside a arte de narrar. Milagre? Não, dom divino e dos bons. E o Onésimo sabe bem contar e conta muito”.
Já escrevi aqui nestas Leituras do Atlântico, creio que em 2013, que nunca me habituei a ver o Onésimo como escritor, mas sim, como um pensador e filósofo que escreve, e de que maneira. E isto mesmo ele disse, ali, na apresentação dos livros: “escrever não me dá prazer. Dá-me prazer, sim, ter coisas escritas”.
Onésimo, Único e Multímodo, como acima já referi, inclui 45 testemunhos de figuras literárias, filósofos pensadores, professores, alunos e amigos, mas não se pense que estão a ermo, dispersos e ao sabor do momento. Eu diria que estão dispostos em ordem de batalha. Lélia Nunes compara a uma escola de samba. João Brás divide o livro em quatro grandes “alas” (o termo serve para batalhas e para samba), em que a primeira se debruça sobre Onésimo de vários ângulos; a segunda vai Do aluno ao Professor; segue-se o Escritor e o Criativo, para depois rematar com chave de ouro sobre o Ensaísta e Pensador.
Para além disso, nas mais de 300 páginas do livro, com chancela da Opera Omnia, há espaço para um acervo notável de fotografias de vários momentos da vida de Onésimo, desde o Pico da Pedra, onde nasceu, aos mais recônditos lugares onde tem estado.
No dia 24 de Junho de 2013, escrevi aqui neste Atlântico Expresso que Onésimo é um orgulho açoriano ainda tão mal conhecido e reconhecido nas nossas escolas. Osvaldo Cabral, na sua intervenção da passada quinta-feira na Livraria Solmar disse, preto no branco, que não se compreende que a “pachorrenta” Universidade dos Açores ainda não tenha prestado justiça a Onésimo Almeida que desde 16 de Dezembro de 2013 é Doutor Honoris Causa da Universidade de Aveiro, numa homenagem integrada nas celebrações dos 40 anos daquela Universidade. E eu acrescento que tal distinção de muito mais proveito se reveste para a Universidade e para a Região do que para o próprio Onésimo que é, ele sim, pela sua obra, pelo seu pensamento e sobretudo pela sua simplicidade e humanismo, Simplesmente Onésimo.
Nunca é fácil adjectivar um livro como este “Único e Multímodo”, porque me sinto pequenino para o fazer e porque tenho os ouvidos cheios daquele “não exageres” com que o Onésimo me brinda. Mas, sem narcisismos, seja-me permitido uma nota muito pessoal que dirijo, com um abraço, ao meu querido e distinto professor Artur Goulart que me honrou, citando-me, no seu testemunho sobre Onésimo seu aluno. Um gesto que não esqueço e que guardo com carinho.
Falando tanto de Onésimo, quase nos esquecemos do Autor dos livros. Para João Maurício Brás fica uma palavra de gratidão e de respeito pelos muitos ensinamentos que nos deixa nestas suas obras, que são testemunho vivo de uma notável capacidade de organização, alicerçada num profundo humanismo e na felicidade de um encontro que frutificou em tão meritório trabalho. Só posso dizer muito obrigado por tudo quanto me deram e continuarão a dar e que apenas se paga neste sincero abraço de parabéns!
Santos Narciso
Nota: Artigo publicado no Leituras do Atlântico, do Atlântico Expresso, na edição de 20 de Julho de 2015.
Agradecemos ao seu autor, o jornalista Santos Narciso, a permissão de sua publicação no Comunidades.