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Comunidades
13 mai, 2014, 23:45
memorandum
João-Luís de Medeiros
TARAMELA DA MEMÓRIA
TARAMELA DA MEMÓRIA -João-Luís de Medeiros
João-Luís de Medeiros
TARAMELA DA MEMÓRIA
1 - 'temores / tremores' democráticos do tempo que passa...
Já reparámos que o tempo segue à nossa frente, numa corrida indiferente ao momento que passa. Embora desconsolados pela brevidade da existência decretada pelas leis da natureza, os seres humanos continuam estonteados pelas brumas do passado, amparados nos frágeis suspensórios do presente, e não raro indiferentes ao convite da mudança.
Através da gaze do olhar dos imigrantes, adivinha-se o luto étnico-político imposto pela ditadura da pobreza que separa vontades, neutraliza inteligências, acicata desconfianças. Todavia, há imigrantes que continuam a sofrer (com inegável intensidade) o suor-frio da vigília duma espera em melhores dias. Para muitos, a 'aragem' do progresso cultural não chegou em tempo útil para lhes oferecer (ou sugerir) novos padrões alternativos ao léxico psicológico patente na sua ancestralidade emocional: mãe-aldeia; mãe-pátria; mãe-igreja... (sem olvidar outras referências maternais alusivas à sapateia imigrante: mãe-fábrica, mãe-sanduíche, mãe-dollar)...
Através da gaze do olhar dos imigrantes, adivinha-se o luto étnico-político imposto pela ditadura da pobreza que separa vontades, neutraliza inteligências, acicata desconfianças. Todavia, há imigrantes que continuam a sofrer (com inegável intensidade) o suor-frio da vigília duma espera em melhores dias. Para muitos, a 'aragem' do progresso cultural não chegou em tempo útil para lhes oferecer (ou sugerir) novos padrões alternativos ao léxico psicológico patente na sua ancestralidade emocional: mãe-aldeia; mãe-pátria; mãe-igreja... (sem olvidar outras referências maternais alusivas à sapateia imigrante: mãe-fábrica, mãe-sanduíche, mãe-dollar)...
Desde jovem (a pensar não se envelhece) assentei praça, como soldado-raso, no ignorado batalhão protector da boa-memória açoriana. Entretanto, os pseudo-democratas luso-atlantas habituaram-se ao verbalismo reaccionário tão comum aos herdeiros do antigo regime: há ainda quem se lastime das chamadas 'desgraças' do 25 de Abril; estamos a referir gente que confunde o anominato da mediocridade e a poluição sonora dos oportunistas com a valentia serena dos militantes da utopia. Infelizmente, a bem-vinda alvorada do "25 de Abril' está cada vez mais reduzida a mero episódio castiço da balbúrdia lusitana. Todavia, continuo a acreditar na ressurreição da açorianidade, e na esperança poética de que o 'hymen' da autonomia política não seja 'estilhaçado' pelo ceptro do capitalismo internacional. Apetece repetir estas palavras de Einstein: "o mundo não está ameaçado pelas pessoas más, mas sim por aquelas que permitam a maldade."
.../... Cá estou, novamente, a espalhar palavras que me escorregam do topo agónico da interrogação humana. Para muitos, infelizmente, a decisão de aprender e a missão de ensinar são martírios a evitar. Aliás, as pessoas menos avisadas confundem charlatanismo com liderança, esperteza com inteligência, competência com sabedoria... Pois é: trago-vos notícias amarrotadas do 'pouco-muito' que tenho procurado aprender nas rotas do meu modesto percurso existencial: em várias ilhas do Atlântico e do Pacífico; em algumas zonas da Europa e de África; no litoral Leste & Oeste do continente norte-americano; nos saudosos calhaus da minha meninice, hoje parcialmente sepultados pelo dilúvio do asfalto que acinzentou o verdecer da nossa Ilha...
.../... Cá estou, novamente, a espalhar palavras que me escorregam do topo agónico da interrogação humana. Para muitos, infelizmente, a decisão de aprender e a missão de ensinar são martírios a evitar. Aliás, as pessoas menos avisadas confundem charlatanismo com liderança, esperteza com inteligência, competência com sabedoria... Pois é: trago-vos notícias amarrotadas do 'pouco-muito' que tenho procurado aprender nas rotas do meu modesto percurso existencial: em várias ilhas do Atlântico e do Pacífico; em algumas zonas da Europa e de África; no litoral Leste & Oeste do continente norte-americano; nos saudosos calhaus da minha meninice, hoje parcialmente sepultados pelo dilúvio do asfalto que acinzentou o verdecer da nossa Ilha...
Continuo a defender a hipótese de que as vulnerabilidades pontuais dos indivíduos podem ser vistas como debilidades breves, transitórias, como por exemplo a ignorância humana, muitas vezes equiparada ao misterioso 'pecado-original'. Entrementes, o que mais nos preocupa é a arrogância e o fraco sentido de relativismo histórico, despudoradamente assumidos pelos actuais 'fiscais-de-isqueiros' do Estado português. Por outro lado, apetece lembrar que o civismo é um ideal realizável em duas frentes: cultivar a generosidade sem contabilizar reciprocidades; depois, apostar na coragem de confiar no próximo (apesar do risco que tal atitude por vezes encerra)...
Enfim, no meio do anedotário social quer pulula um pouco por toda a parte, atrevo-me a sugerir que ainda vale a pena amarmo-nos uns aos outros, sem concorrer aos prémios porventura anunciados na cartilha oficial de virtudes da moda. Conclusão, vamos seguir em frente, mesmo que tenhamos de avançar 'espiritualmente a pé...!
2 - Democracia: gentil aspirina que faz guerra à dor e paz à doença...
Há mais de duas décadas começámos a afirmar, publicamente, que o 'cavalo de Troia' das drogas ilegais conseguira penetrar as atraentes (frágeis?) muralhas açorianas. O 'nosso' Camões deixou escrito: "entre portugueses houve traidores algumas vezes". Creio que falta dizer, ou melhor gritar: "agora como dantes, açorianos traficantes são tiranos".
Entre outros factores do pão-nosso de cada dia, precisamos de "Ideias ao Desafio" para fortalecer os ideais democráticos, a começar pela reconciliação inteligente das nossas diferenças, na ânsia de fomentar a união na diversidade. Gostaria de acreditar que estamos ainda a bom tempo para assinar um contrato de conveniência, ou seja: "descobrir o bem, oculto em todo o mal".
Entre outros factores do pão-nosso de cada dia, precisamos de "Ideias ao Desafio" para fortalecer os ideais democráticos, a começar pela reconciliação inteligente das nossas diferenças, na ânsia de fomentar a união na diversidade. Gostaria de acreditar que estamos ainda a bom tempo para assinar um contrato de conveniência, ou seja: "descobrir o bem, oculto em todo o mal".
Estamos a viver mais um ano para acrescentar aos sete milhões de anos que a espécie humana traz no seirão do seu percurso autónomo: jornada sinuosa, salpicada de retrocessos pavorosos (sem ignorar as benignas teimosias criadoras, salpicadas pelos temores/tremores ditados pela contigência de não entender nem ser entendido: aliás, há momentos em que a claridade provoca a escuridade mental. A propósito, herdámos de Charles Baudelaire, a seguinte frase poética: "há uma certa glória em não ser entendido". Agora, vamos deixar aberta a "Taramela da Memória" para facilitar eventuais conversas futuras...
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Rancho Mirage, California
Maio/2014
Maio/2014
(*) o autor do texto não aderiu ao recente acordo ortográfico.
João-Luís de Medeiros - Contabilista & Gestor de Recursos Humanos (sector privado da economia); Poeta; 'Guest-Columnist' e Comentador na imprensa e rádio lusófonas. B.A.- Humanities & Social Sciences; M.S. - Human Resources Management.