Temporal
Vem oh mar rebentar-me dentro
Abrir-me partir-me desdobrar-me
Vem oh mar arrebatar-me eterno
Nas carícias do teu fluido abraço
Vem oh mar quebrar o meu sossego
Naufragar-me a nau despir-me nua
Rebolar-me no rolo do teu vento
Entregar-me às quatro fases da lua
Vem oh mar afogar-me os sonhos
Os sonhos que me são tudo na vida
Vem oh mar no sol por companhia
Enrolar a tua areia nos meus olhos
Vem oh mar em constante mudança
Que as livres velas côncavas enfuna
Levar-me para além da esperança
Embalada na voz das águas fundas
Vem enfim oh mar trazer-me muda
Apagadas em mim todas as luzes
Junto à ilha onde começava tudo
Oh mar salgado oh finda vida doce
Carolina Matos
Foto de Jorge Gois, tirada na Urzelina, S. Jorge, Açores