Na arquitetura do segundo painel, que a organização, sabiamente, nomeou de “A diáspora portuguesa no Canadá: registros futuros”, o público presente foi agradavelmente surpreendido pelo relato precioso de trabalhos de ótimo nível de investigação sobre temas relacionados com a realidade da comunidade portuguesa em Ontário e que estão sendo desenvolvidos por jovens estudantes. Temas instigantes que desvendam as vivências dessas comunidades com seus estereótipos culturais e valores sociais considerados motivando inúmeros questionamentos e reflexões. Cada um a sua maneira falou de projetos em execução ou já executados e de seus resultados. Sob a moderação de Irene Blayer,Karen Dearlove na sua intervenção abordou o tema a “Diáspora e construção comunitária: os portugueses em Cambridge”, Susana Miranda narrou sobre o trabalho da mulher no estudo intitulado “Muitos se equivocaram em relação a elas: activismo entre imigrantes portuguesas na indústria da limpeza de edifícios em Toronto, década de 70 e 80”; Laudalina Rodrigues apresentou um estudo sobre o “Orfeão Stella Maris: um itinerário de sons em mudança dialógica”. Do ponto de vista sociológico, na análise da interação do fenômeno social, do processo de assimilação cultural e de comunicação social numa comunidade de imigrados, destaca-se os trabalhos desenvolvidos pelos jovens Frederico Gomes: “Expressões selectas de portuguesismo: noções de portuguesismo entre luso-canadianos de segunda geração em Toronto”; Robert Maciel: “Multiculturalismo e multinacionalismo: confrontando a identidade e pertença no Canadá”; David Pereira: “ Masculinidade em acção : percepções de masculinidade, relações inter-gêneros e sexualidade entre rapazes de ascendência portuguesa em Toronto” e Emanuel da Silva com “Eh Corisco! Fala português como deve ser! As ideologias de língua e identidade entre jovens de segunda geração em Toronto”.
“Identidade Açoriana num Ontário multicultural: algumas perspectivas” foi tema do terceiro painel moderado por Diniz Borges cujos trabalhos deram ênfase ao papel da educação nas comunidades açorianas e a representação dos imigrantes portugueses pelos portugueses. Participaram do referido painel Francisco Cota Fagundes falando sobre “Portugueses vistos por portugueses: a representação de imigrantes lusos na América na moderna literatura de viagens portuguesa”; José Carlos Teixeira discorrendo sobre o tema “Gentrificação, deslocação e resistência: estudo de causa de portugueses da terceira idade no mercado de residências em Toronto”; Fernando Nunes trouxe de Halifax a sua experiência de professor no relevante estudo que examina “As barreiras de apoio à escolarização dos jovens luso-canadianos: pondo em questão o mito da falta de apoio à educação por parte dos pais.” Temas que calaram fundo ante a responsabilidade social com o futuro dessas gerações.
O último painel “Testemunhos: reflexos de uma comunidade em transição (cinco décadas depois)” a encerrar o colóquio oportunizou questionamentos, reflexões e apontou caminhos na busca de soluções possíveis numa sociedade em contínuo processo de mudanças nos valores e nas práticas sociais e culturais. Uma inquietude que faz parte de uma comunidade em transição. Nas vozes de Cidalia Faria, Assistente da Promotoria Pública da Coroa (Crown Attorney), do Professor Elvino Sousa da Universidade de Toronto e do ator de cinema e teatro Paulino Nunes, os testemunhos de suas vivências como imigrantes, seus conflitos, sua socialização, suas lutas e conquistas, sua trajetória de vida e sua relação com os Açores. Falaram de sonhos, de descobertas, de cumplicidades. Falaram com alma açoriana e deixaram-na navegar livre por um mar de Ilhas em comunhão com uma seleta platéia que aplaudia cada relato partilhado com simplicidade e emoção.
O Fórum “Narrando a Diáspora Portuguesa: identidade e Cultura Além-Fronteiras” se constituiu num momento ímpar, onde a troca efetiva de experiências que se processaram por este breve período de tempo foram intensamente vividos, proporcionando a convergência de conhecimentos , de talentos, de profissionalismo acadêmico, de lideranças comunitárias, de seres humanos comprometidos com a construção da Identidade Açoriana numa Toronto onde todos os caminhos revelam a sua multiculturalidade.
Florianópolis, 8 de abril de 2010
Ilha de Santa Catarina
Crédito Imagens: de Antonio Oliveira, Revista Comunidade USA, gentilmente cedida ao Blog Comunidades