Tu queres lá saber de poesia!…
– Que importa que eu possa ser artista,
Que tenha, ou não, alma de poetisa,
Que traga em mim um sonho de infinito,
Que me embriague ao contemplar o mar,
Que sonhe com o luar, ou me enterneça,
Que me extasie olhando um pôr-do-sol,
Que me enleve no fogo das estrelas,
Que goste de escutar a voz dos pássaros,
De ouvir cantar as fontes e as ondas,
Que me encante na graça duma flor,
Nos tons ou na grandeza da paisagem,
Que a música me empolgue ou me comova,
Que eu saiba ouvi-la ou saiba interpretá-la…
– Que tudo quanto é belo me subjugue?…
Tu queres lá saber!…
Tu – homem prático, para quem a vida
É frio cálculo, uma equação apenas –
Tu queres lá saber de poesia!…
– Para ti – basta-me ser mulher,
(E não sei se to deva agradecer)
– Mas a mulher-Amor – é mais do que isso,
Artista, ou não, é mais alguma coisa…
É isto que não deves esquecer:
– Uma alma de Deus, um hálito divino
Num barro frágil – mais ou menos fino…
Maria do Céu,
Voz de Mulher, Rimas e Rosas de Milagre,
Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, 1977.
Maria do Céu é pseudónimo de Maria Francisca do Carmelo Bettencourt (1904-1980) poeta, dramaturga, artista, natural de Angra do Heroísmo, ilha Terceira, onde sempre residiu.