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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de UM MENINO NOS FOI DADO  Daniel de Sá
Comunidades 22 dez, 2009, 17:14

UM MENINO NOS FOI DADO Daniel de Sá

    UM MENINO NOS FOI DADO  Daniel de Sá
           

“Quando Tu nasceste
que assombrosas e lindas e impossíveis coisas de acontecer aconteceram…

em Agosto ou Dezembro o certo é que nevou
e uma estrela se fez bordão de magos.

Até os anjos do céu sujaram as sandálias
nos currais de Belém.“

            Este suave poema de Emanuel Félix contém a poesia e a dúvida do mistério do Natal. São Lucas e São Mateus falam-nos do nascimento desse Menino que nos foi dado para mudar a história humana. Mas fazem-no de um modo fragmentado, que se percebe inseguro, de quem não foi testemunha presencial. Talvez eles, como nós ainda hoje, sentissem a mesma e imensa curiosidade a respeito do dia que começou a mudar o mundo. São Lucas até pode ter ouvido algumas coisas vagamente ditas por Maria. E São Mateus talvez nem sequer tenha escrito esses pormenores que constam do evangelho que lhe é atribuído. Para aumentar a nossa incerteza, um e outro evangelista contradizem-se no final da narração dos primeiros dias de vida de Jesus. São Mateus diz que a Sagrada Família, temendo Herodes, fugiu para o Egipto; São Lucas afirma que regressaram os três a Nazaré.
            Os evangelhos não foram uma espécie de biografias de Jesus, escritas à maneira moderna. Talvez resultem de pequenas pregações avulsas que circularam entre os primeiros cristãos. Passando de mão em mão, copiados e recopiados para chegarem ao maior número possível de crentes, facilmente terão sido como que “contaminados” pela piedade dos copistas. Estes poderiam, por exemplo, ter recorrido a passagens do Antigo Testamento para completar a narração de São Mateus. O método estaria de acordo com o que os exegetas judeus faziam desde o último século a. C., uma certa forma de analisar os Livros Sagrados e sua interpretação total ou parcelar. A cada interpretação dá-se o nome de “midrash” (“midrashim”, no plural hebraico).
            Para perceber melhor este método e sua intenção, veja-se o que acontece no início do evangelho de São Mateus. No entanto, tenha-se em atenção que nada disto implica descrédito para o evangelista, ou para quem, sem ser ele, tenha acrescentado tais episódios. Para compreendermos melhor a questão, tomemos o exemplo do “Sermão de Santo António aos peixes” do padre António Vieira. Todo ele é simbólico, e cada espécie de animais marinhos representa um tipo de comportamento humano. Embora num plano muito diferente, no evangelho de São Mateus o que se pretende é mostrar que Jesus é o Messias, estabelecendo frequentes momentos paralelos com profecias do Antigo Testamento.
            Terá sido provavelmente deste modo que foi construído todo o drama da fuga para o Egipto. Em Oseias começa assim o capítulo 11:
            “Quando Israel era ainda menino,
            Eu amei-o, e chamei do Egipto o meu filho.”
            No próprio evangelho vem esta referência explícita: “Assim se cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta: Do Egipto chamei o meu filho.” A partir desta ideia, seria necessário criar o cenário que teria obrigado a que a Sagrada Família, à semelhança de várias personagens do Antigo Testamento, se refugiasse naquele país. Aparece então a muito conhecida história da perseguição de Herodes a Jesus. Os magos vindos do Oriente representariam a universalidade do reino messiânico, e o choro das mães dos meninos assassinados seria como que um eco do que disse o profeta Jeremias, pensando no sofrimento dos habitantes do Reino do Norte, massacrados ou exilados pelos assírios:
            “Ouvem-se, em Ramá, lamentações e amargos gemidos.
            É Raquel que chora, inconsolável,
            os seus filhos que já não existem.”
            Diz S. Mateus, com alguns erros na citação:
            “Cumpriu-se então o que o profeta Jeremias dissera: 
            Ouviu-se uma voz em Ramá,
            uma lamentação e um grande pranto:
            É Raquel que chora os seus filhos
            e não quer ser consolada,
            porque já não existem.”
            Este tipo de recursos de que os evangelistas se serviram para preencher lacunas, ou para reforçar o sentido da mensagem que pretendiam transmitir, não apaga de modo nenhum o fundo histórico dos evangelhos. O essencial dos factos narrados ou dos ensinamentos de Cristo permanece inalterado. É pouco relevante, por exemplo, que Jesus tenha nascido em Belém ou em Nazaré. O importante é Ele ter vivido entre nós. Como é igualmente pouco relevante se o Sermão da Montanha foi dito numa só pregação ou se é o resumo da doutrina de Cristo feito por S. Mateus.


Daniel de Sá
(Dezembro 2009)

                                                                       
                                                                       

NOTA SOBRE IMAGEM: 
Presépio, 1980  W. Zumblick; Óleo sobre tela, 90×110 cm,
Acervo: Filhos W. Zumblick.
Foto:Gurini Vieira
Refer: NUNES,Lélia Pereira da Silva. Zumblick uma história de vida e de arte. Brasília,Ed.1 do SenadoFederal, 1983, p.130.

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