Uma noite memorável
O tenente-coronel José Francisco da Terra Brum foi nomeado capitão-mor do Faial em março de 1818. Era um homem simples e afetuoso com todos, estimado tanto pelos mais distinguidos como pelos mais humildes daquela terra. Durante as lutas liberais em Portugal (1828/1834), chegou a ser levado preso para Lisboa, mas após a vitória de D. Pedro (IV de Portugal e I do Brasil), regressou honrado ao seu lugar. Anos mais tarde, por seus relevantes serviços à causa liberal, foi agraciado por D. Maria II, filha de D. Pedro, com o título de Barão da Alagoa.
Nas campanhas à sucessão de D. João VI, D. Pedro fez uma visita ao Faial. Recebeu-o em sua casa o morgado Terra, seu simpatizante e partidário.
Conta-se que ao regressar à Ilha Terceira, base de suas operações, D. Pedro prometera voltar ao Faial para o aniversário da filha do seu amigo e partidário. Passado algum tempo, quando chegou o dia da festa, sem que o navio aparecesse na baía da Horta, julgaram que a promessa tinha sido uma mera amabilidade de sua majestade.
Mas de certo não conheciam o espírito romanesco e aventureiro de D. Pedro. Na data marcada, lá pelas 22 h, entra devagar na baía da Horta o vapor Superb. Escondido pelo negrume da noite, desembarca no cais, junto à fortaleza de Santa Cruz, um vulto ágil, seguido de outro, ligeiramente mais atrás, que caminhando pelas ruas escuras e silenciosas da cidade segue rumo à iluminada e festiva casa de José Francisco da Terra Brum. No percurso, os dois personagens encontram um indivíduo, Sergio Ribeiro que, ao assestar o jato luminoso do seu furta-fogo sobre os vultos, reconhece, estupefato, sua Majestade e seu ajudante de ordens. Recuperado do susto, se oferece para levá-los à casa do morgado. Mas é recusado. D. Pedro queria fazer uma surpresa à aniversariante, Joaquina Emília da Terra Brum, que já não mais contava com a sua honrosa presença.
Célere, em poucos minutos, D. Pedro atinge as escadarias do solar dos Terra. Assoma os degraus e entra no salão de baile teatralmente, galante, de casaca e grã-cruz ao peito, ante as reverências do atônito guarda-portão, e a incredulidade da sociedade presente.
Como um rastilho de pólvora, a notícia se espalhou pela Horta e logo o solar regurgitou de gente. A presença do monarca prestigiava o capitão-mor e a gente faialense. Nos anais do Faial esse acontecimento memorável ficou registrado para sempre na história da ilha. Na madrugada do dia seguinte D. Pedro partiu para a Terceira, base açoriana da sua luta vencedora.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba. 30/03/2017
Dados compilados do livro Famílias Faialenses de Marcelino Lima (Ed. 1922)
Nota: Segundo minha mãe, senhora de quase 90 anos, um avô dela, Augusto Andrade, era parente ( primo, não sabe em que grau) pela linha materna dos Terra Brum do Faial. Como ela não lembra o nome desse primo, fica a dúvida se temos ou não algum parentesco com essa família.
UMA ÚLTIMA OBSERVAÇÃO DA AUTORA:
Posso acrescentar que esse avô de minha mãe chamava-se AUGUSTO FRANCISCO DE ANDRADE( nascido janeiro de 1874 e falecido julho de 1936) natural da Madalena, e que casou com ROSA DA GLORIA BETTENCOURT ( Andrade), tb nascida na Madalena (Pico)a janeiro de 1882 e falecida na Horta em fevereiro de 1970. Essa minha bisavó, era irmã da avó da Maria Madalena Medeiros , viúva de Guilherme Medeiros, parente do MANUEL LEAL, que mora nos EEUU.
Sobre a Autora: Maria Eduarda Fagundes Nunes é açoriana da lha do Faial. Vive em Uberaba,Minas Gerais. É Médica e escritora. Com inúmeros artigos memorialistas de imenso valor sobre os Açores e sobre a cultura de Minas Gerais.