Foi na freguesia da Piedade, na Ilha do Pico, numa casa grande no Calhau com grandes janelas por onde chegavam os rumores do mar e se avistava a Ilha de São Jorge que no inverno de 1949 nasceu o escritor e professor Urbano Bettencourt. Da sua formação acadêmica, Licenciatura em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa inicia o magistério no Ensino Secundário e em 1990 ingressou como Assistente Convidado na Universidade dos Açores, onde tem lecionado no Departamento de Línguas e Literaturas Modernas.
E o escritor? Quem o sensibilizou para a escrita? Como tudo começou?
Numa entrevista dada à revista Açores Mundo em 2005 revelou: "No começo de tudo, há um avô materno que lia imenso, sentado a uma janela que dava para o mar; vem daí, seguramente, o fascínio pelo mistério dos livros e das suas viagens. E depois há as descobertas que se fazem ao longo da aprendizagem escolar, mesmo contra os espíritos bem pensantes e alguns piedosos engenheiros de almas. A escrita é já uma consequência de tudo isso. Mas dá-se também o caso de eu ter tido à minha disposição, e desde bastante cedo, as páginas do jornal O Dever, das Lajes do Pico, o que constituiu um incentivo eficaz para a continuação…" Daí pra frente não parou mais e da palavra escrita se fez ouvir… De Raiz de Mágoa (1972) a Antero (2006), ficam cerca de quinze títulos de poesia, narrativa e ensaio, além da participação em diversas antologias, nacionais e estrangeiras, e obras coletiva. No domínio do ensaio, tem privilegiado as literaturas insulares. Gosto muito!
Poeta consistente, original e coerente na defesa da territorialidade da literatura açoriana (a que Vamberto Freitas chama de uma estética da territorialidade, in: A Ilha em Frente,1999:15-29) , numa compreensão do sentido de pertencer a um território que tem o mar por fronteira, que é referência da sua identidade cultural.
Na arte de poetar tece "renda irlandesa" com imagens ora sedutoras, ora ternas, carregadas de metáforas que intrigam, provocam e conquistam o leitor. Mas, se para Mallarmé, deve sempre haver enigma na poesia, Urbano Bettencourt com astúcia arma um constante desafio e leva-nos a degustar com calma, assimilando palavra por palavra, sílabas, sentidos, sentimentos quase numa ruminação da instigante busca na percepção das vertentes sugeridas ou a desvendar Deixa fluir uma profunda ternura da sua escrita, mesmo no humor, na sátira e na sutil ironia, no jeito de olhar o ser humano, sobre e em qualquer circunstância.
Enfim, por ser parte do cânone literário de dentro e fora dos Açores, por outros mundos, sociedades e culturas Urbano Bettencourt terá sempre muito que dizer na sala de aula, como professor de Literatura Açoriana e de outras Literaturas, e como poeta na prosa ou no verso.
Urbano Bettencourt dá sua contribuição ao Comunidades nesta crônica sobre o escritor gaúcho Luís Antonio de Assis Brasil,seu amigo e vizinho da outra margem do Atlântico. Faz do seu jeito, econômico, essencial no seu gosto de bailar com as palavras e de dizê-las por inteiro, mas sempre esbanjando significados.
Florianópolis,15 de outubro de 2008
Ilha de Santa Catarina
(*)Copyright Sara Bettencourt