Mesmo esperada, a morte de um amigo é sempre intolerável. Vasco Graça Moura morreu hoje de manhã. Tinha 72 anos. Poeta, ensaísta, ficcionista e tradutor, deixa uma obra que marca o século XX português. Actual presidente da Fundação Centro Cultural de Belém, Graça Moura ocupou nos últimos quarenta anos diversos cargos institucionais. Duas vezes secretário de Estado, primeiro da Segurança Social, depois dos Retornados (nos 4.º e 5.º governos provisórios, respectivamente); director de programas da RTP; presidente da Imprensa Nacional / Casa da Moeda (a ele se devendo a edição portuguesa, em 41 volumes, da enciclopédia Einaudi); presidente da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Fernando Pessoa; comissário-geral de Portugal para a Exposição Universal de Sevilha; presidente da Comissão Nacional dos Descobrimentos (1988-95); director da revista Oceanos; director da Fundação Casa de Mateus; membro do conselho-geral da Comissão Nacional da UNESCO; director do Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian (1996-99) e também consultor da FLAD. Deputado ao Parlamento Europeu durante dez anos (1999-2009), eleito nas listas do PSD. Além de diversos prémios literários, em Portugal e no estrangeiro, recebeu em 1995 o Prémio Pessoa. Há três meses foi-lhe outorgada a Grã-Cruz da Ordem de Santiago da Espada. Homem de convicções fortes, à Direita, nunca se preocupou com a ideologia dos seus pares.
Várias vezes compilada, a obra poética [1962-2010] encontra-se disponível em dois volumes que a Quetzal publicou em Outubro de 2012 com o título de Poesia Reunida. Escrevi muito sobre ela, não me vou repetir. Graça Moura publicou ainda seis romances, dezenas de volumes de ensaio e dois de crónicas. Entre outros, traduziu Dante – A Divina Comédia entrou no património da língua portuguesa -, Petrarca, Shakespeare (os sonetos), Ronsard, Villon, Corneille, Molière, Racine, Rilke, Lorca, Enzensberger, Gottfried Benn, Seamus Heaney e Tomas Tranströmer.
Foi o mais consistente opositor do Acordo Ortográfico de 1990, tema a que dedicou o ensaio Acordo Ortográfico: a Perspectiva do Desastre (2008), que publiquei neste blogue antes da sua impressão em volume.
À família e, em particular, a Maria Bochicchio, apresento condolências. Até sempre, Vasco.
Da Literatura
O blogue de Eduardo Pitta
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