2015.09.12
[Quando os astros descendo ao mar inflado]
Quando os astros descendo ao mar inflado
Convidam os mortais a sono brando,
As aves em seus ninhos repousando,
Na toca as feras dormem sem cuidado;
Depondo o lavrador o curvo arado
As mansas rezes no curral tapando,
As portas do tugúrio ferrolhando,
Da consorte fiel ressona ao lado;
Quando enfim todo o mundo em paz descansa,
Aflito só revolvo na memória
Da Jónia a sem razão a vil mudança,
Quanto a dita d’amor é transitória!
Como dos gostos vãos a vã lembrança,
Duplica em mágoa a passada glória!
Vieira Goulart1 , In “Antigualhas”2 ,
Boletim do Núcleo Cultural da Horta, (vol. 2, nº 3),
Horta, 1961.
2. Transcrito de «O Grémio Literário, do nº 7 de 15-8-1880 ao nº 39 de 1-2-1882.