(José Malhoa, 1855-1933
Vinha no Outono 1914)
Manuel Augusto de Amaral (1862-1942), professor, poeta, natural da freguesia de Água de Pau, ilha de S. Miguel, viveu e trabalhou em Ponta Delgada onde faleceu.
VINDIMAS
Ao Dr. José Bruno T. Carreiro
Por entre a vinha, ao sol, rindo e cantando
— Cestos e corações vazios ainda! —
Andam as raparigas, qual mais linda,
Uvas e amor a vindimar, em bando.
E é tal a freima com que vão cortando
Almas e cachos, numa festa infinda,
Que à tarde ficam, mal noite é vinda,
Os corações e os cestos, transbordando.
Deixai-me, filhas, vindimar agora
Os bagos desses olhos, cor de amora,
E encher meu coração — cesto sem fundo!
Quero fazer um vinho casto, iriado,
Vinho de luz, para eu, embriagado,
Beber até cair… num outro mundo!
Talvez que alguma tenha em mim pensado,
Sem eu supor que sou por ela amado;
Que sempre uma alma triste nasce e existe
Para consolar outra, inda mais triste.
As almas, como as pombas, vêm aos pares,
E, como as pombas, rondam pelos ares,
Em cata uma da outra, até achar…
Mas quando não, vagueiam toda a vida,
Virgens de amor, numa ânsia dolorida,
E sem nunca encontrarem o seu par!
Manuel Augusto d’Amaral,
Poentes de Outono,
Ponta Delgada, Typ. Diário dos Açores, 1911.
Manuel Augusto de Amaral (1862-1942), professor, poeta, natural da freguesia de Água de Pau, ilha de S. Miguel, viveu e trabalhou em Ponta Delgada onde faleceu.