O VIGIA DE BALEIA
A minha homenagem ao escritor Dias de Melo
e aos baleeiros açorianos que ele imortalizou
O seu sorriso abre-se com o sal cristalino
que lhe tempera a pele
e se reflete no vidro entreaberto,
espelho d’alma azul de um olhar discreto.
Uma torre de menagem feita arte
vigia o enrolar das ondas do seu cabelo crespo,
a ilha a demorar-se no horizonte de um aceno…
O repuxo de ar líquido da baleia
apressa o eco na distância
da velha experiência do Vigia
atento à curvatura onde o céu se funde com o mar.
E o lavrador do tempo que urge persiste,
larga o sacho e corre para o barco
seguindo o som da roqueira,
e lá vai… insiste
“baleia, baleia à vista!”
A água pode ser madrasta, mas na mira do arpão
alonga-se e entrança as algas
nos cadilhos do xaile da Mulher,
cuja força transforma em pão o basalto carcomido
torcido por dentro com o fogo
do sonho ilhéu, moldado com a candura da paz
e do tangível em que acredita e quer.
Virgílio Vieira,
Ondas são palavras,
Ponta Delgada, Letras Lavadas, 2012.
Virgílio Fernando Ferreira Vieira (1960), biólogo, investigador, poeta, natural da freguesia de Bolhe, Penafiel, ‘açoriano por opção e adoção’, reside e trabalha na cidade de Ponta Delgada, ilha de S. Miguel.