Quando a cidade acende
os olhos da noite
e a luz se transforma
em fantasmagorias de cor
e desliza
por tudo quanto é fenda ou nesga de céu
quando as fachadas se erguem
embebidas em penumbra tenra
e abafam
o regresso do vaivém
do dia
quando a hora não for mais
do que uma simples hora
sem passado e sem futuro
e a linguagem dos gestos
a única a ser
ouvida
então sim! é possível
também
agarrar a presença
do insigne pintor
que em tela gigantesca
capta o irreal
e o torna
em espaço sensível
aos olhos das suas criaturas
Ana M. Neto de Viveiros,
in Ecos de mim – Memória do Tempo,
Ponta Delgada, edição da autora, 2003.
Viveiros, Ana Maria Moniz da Ponte Neto de Viveiros (1934), professora, articulista, poeta, natural de Ponta Delgada, ilha de São Miguel, trabalhou na cidade natal onde reside.