Y-JURERÊ MIRIM, A Ilha Encantada
A cultura de Florianópolis desfila no Carnaval Carioca
Uma maravilhosa energia contagia os brasileiros do norte ao sul do País em torno de uma grande paixão: o Carnaval, a maior festa popular do Brasil que faz do samba a nossa identidade cultural, que confere ao povo a insígnia da alegria. Uma alegria que explode como estopim de dinamite e que faz sambar suas vilas e cidades até tudo se acabar na quarta-feira de cinzas. É o Carnaval dos bailes de gala, dos blocos, dos carros alegóricos, do teatro de rua, das marchinhas, das tradições singulares como o entrudo e a batalha do limão de cheiro. É o Carnaval do samba espetacularizado na grande Avenida, no sambódromo – passarela de desfiles monumentais das Escolas de Samba onde idéias, argumentos, enredos, desenhos tornam-se realidade. Um mar de foliões, de corpos a balançar na fantástica cadência do samba avança na Avenida, numa profusão de cores e luzes, fazendo bater mais forte o coração brasileiro.
O enredo de cada Escola de Samba apresenta uma multiplicidade de temas que expressam a nossa efervescência cultural, a multiculturalidade e a história do nosso povo e de outros povos desde a rica contribuição das diásporas culturais. Temas que cantam as belezas naturais, a paisagem exuberante, a fauna, a flora tropical que o carnavalesco com talento, criatividade sem paralelo e ousadia leva para a passarela e faz brilhar com arte. O reconhecimento do esforço coletivo está na euforia do público que da arquibancada aplaude, canta, aprende, reverencia. Uma sintonia de sentimentos que faz pulsar a energia, vibrar o coração e que liberta a alegria.
A maior vitrine do Carnaval do Brasil é o sambódromo da Avenida Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. Por isso, ser tema de enredo de qualquer escola de samba carioca oportuniza uma grande visibilidade, uma grande exposição da imagem do “homenageado” para todo o Brasil e para mais de cento e quarenta países que recebem em tempo real o show de sua apresentação em duas noites de muito brilho.
A Grande Rio para o carnaval 2011, a escola tricolor, decidiu levar para a Sapucaí o enredo Y-JURERÊ MIRIM – A encantadora Ilha das Bruxas (um conto de Cascaes). Uma homenagem a Florianópolis e a nossa Ilha com seus encantos e rico imaginário. A intenção era exaltar as belezas naturais, o artesanato tradicional, a gastronomia típica, a história e a herança cultural dos povoadores, a relação do ilhéu com mar e,principalmente,reviver na grande passarela carioca o universo bruxólico do folclorista Franklin Cascaes – bruxas,boitatás, lobisomens e outras personagens e manifestações da cultura popular como as tradições religiosas do Divino Espírito Santo. Tudo se preparava para ser um grande Carnaval com uma grande exposição de Florianópolis na mídia nacional e internacional e quem sabe se consagrar campeã do Carnaval do Rio de Janeiro. Tinha tudo para conquistar a Marquês de Sapucaí.
Um grande incêndio na noite de 7 de fevereiro atingiu a Cidade do Samba e destruiu barracões das escolas Portela,União da Ilha e a Grande Rio. As chamas pareciam ter consumido não apenas fantasias,adereços e carros alegóricos, mas também os sonhos da comunidade do subúrbio carioca Duque de Caxias e de nossa Florianópolis. Entre as cinzas e muitas lágrimas jaziam: 3.300 fantasias, 8 carros, 4 tripés, a Comissão de Frente, os trajes de porta-bandeira e mestre-sala. Um prejuízo acima de R$ 6 milhões. Todavia,das mesmas cinzas, a Grande Rio tirou forças para, com garra e muita coragem, se reerguer e em menos de um mês colocou a escola reconstruída na Sapucaí e fez bonito. Depois do fogo, que queimou quase tudo, a escola entrou na Avenida extravasando alegria, emoção e muito amor pelo Carnaval. Foi o desfile da superação!
Nada se compara a capacidade de superação do povo brasileiro, de dar a volta por cima e meter “bola para frente” porque amanhã é um novo dia. Pois é no Carnaval que esta qualidade de tripudiar sobre as mazelas do cotidiano emerge com força absoluta para se viver intensamente um momento de sonho ou a grande ilusão do carnaval.
A Grande Rio foi exemplar ao colocar a escola na Avenida, ao mostrar que nem o fogo, nem a chuva torrencial que caiu na hora de seu desfile desanimou os seus quatro mil componentes. Levantou o público na Avenida,mesmo debaixo d`água, quando um mar vermelho, verde e branco abraçou a Sapucaí com emoção e do mesmo jeito generoso que o mar enlaça a nossa Ilha. No coração o fogo da paixão carnavalesca, no corpo a chuva – água despejada dos céus – que lavou as tristezas e deixou à vista a alma solidária a sambar num ritmo só – o do amor.
Assim, bruxas e calderões,figuras do imaginário bruxólico, alas de índios carijós, piratas, negros escravos e a dança do cacumbi, náufragos e os açorianos povoadores dançaram a nossa história cultural com toda energia e beleza. Com garra cantaram as belezas das nossas praias, os mistérios encantados do mar,a pesca da tainha e as baleeiras,a procissão de Nossa Senhora dos Navegantes –a Iemanjá, o santuário ecológico insular, a flora e a fauna exuberante e a formosa Lagoa da Conceição.
Do folclore ilhéu, o Boi de Mamão e o Terno de Reis, ao cotidiano do Mercado Público Municipal com seus usos e causos, nada foi esquecido. Nem o jeito de ser e estar da nossa gente – o ilhéu, o “manezinho”,o surfista e a moça bonita e faceira.
Do legado cultural açoriano e português o carnavalesco Cauê Rocha mostrou a azulejaria portuguesa nos adereços; a simbologia da Festa do Espírito Santo que o casal mestre-sala e porta-bandeira, em volteios elegantes, delicados, na linguagem de corpos, ballet em sincronia, representaram na beleza de seus trajes – com a pomba branca ricamente bordada – os Imperadores do Divino e as rendeiras da Ilha ou “as baianas-rendeiras”. Um rendado branco invadiu a passarela como grande nuvem passageira. Era a “ala das baianas”, trajes vistosos em renda de bilro, o artesanato maior da Ilha de Santa Catarina,rodavam por toda Avenida.
Um grande carro alegórico representou a ponte Hercílio Luz, nosso cartão postal, foi a apoteose da Grande Rio, encerrando o desfile com a força de uma fenix que ressurge das cinzas, revelando Florianópolis e a Ilha de Santa Catarina ao carnaval da cidade maravilhosa. Em oitenta e dois minutos de desfile,pelas mãos do carnavalesco Cauê Rocha, a Grande Rio chegou consagrando o sonho, a ousadia e coragem, projetou Florianópolis, sua riqueza cultural, sua história ancestral, toda beleza da Ilha da Magia e o seu encantamento, para o Brasil e o Mundo.
Florianópolis,Ilha de Santa Catarina
Março de 2011
Créditos Imagens: Todas imagens estão no site da Escola de Samba Grande Rio e na página da Secretaria de Turismo da cidade do Rio de Janeiro. Apenas uma (a primeira acima) estava identificada a autoria- Marcos de Paula10