ZECA MEDEIROS
Entre 11 e 20 de Abril decorreu em Ponta Delgada (S. Miguel, Açores) a segunda edição do Panazorean-Festival Internacional de Cinema, Migrações & Interculturalidade.
No dia 19, o Panazorean completou a homenagem a Zeca Medeiros, começada a 17 com a exibição de «Gente Feliz com Lágrimas», adaptação do romance homónimo de João de Melo. Esta segunda sessão constou da exibição do documentário «Aprendiz de Feiticeiro», de Tiago Rosas, uma revisitação do imaginário de Zeca Medeiros (cineasta, actor, compositor, cantor).
Paulo Mendes justificou a homenagem, o seu sentido no contexto do Panazorean e num tempo conturbado como este que vivemos; Gilberta Rocha traçou o perfil do companheiro de geração, desde a década de 60 até aos anos mais recentes, passando pela avaliação de uma obra complexa e diversificada (coisa que no interior do documentário Paulo Martinho acentuaria).
O documentário de Tiago Rosas refaz um percurso de mais de duas décadas de actividade criativa, no cinema, no teatro, na música. Seleccionando excertos das obras de Zeca Medeiros, numa perspectiva cronológica, adiantando já um esboço de interpretação na parte final, Tiago Rosas deu-nos a oportunidade de (re)ver aquilo que é hoje um dado adquirido (para quem não enfermar de complexos de inferioridade ou de vesguice intelectual): Zeca Medeiros construiu com o seu trabalho uma notável e sensível representação da açorianidade (a palavra hoje vítima de usos e abusos por parte de quem antes a olhava de forma distanciada e até suspeitosa). Lançando mão de textos alheios (de origem autoral e provenientes da literatura oral tradicional), ou erguendo de raiz as suas histórias, criando um imenso acervo musical de alta qualidade, alternando (por vezes combinando), o teatro, o cinema, o vídeo, reunindo actores reconhecidos e «inventando» outros, convocando para o seu trabalho outros compositores açorianos – Zeca Medeiros construiu uma OBRA em que é possível revermo-nos na nossa história, nos nossos dramas e misérias, angústias, abandonos e ausências , mas também nas nossas alegrias e triunfos, afectos e cumplicidades, na nossa felicidade temperada com (muitas) lágrimas – o nosso «fado insulano», em suma. Impossível ignorar, tal como o referiu Zeca Medeiros, o papel que a RTP-Açores (com o seu grupo de excelentes profissionais) desempenhou neste processo.
Que tudo isto nos tenha sido dado a ver por Tiago Rosas, já da «geração seguinte», é também um óptimo sinal.
Parabéns ao Tiago. Abraço ao Zeca. E venham mais.