A RTP-Açores acompanhou Sara Cruz no Festival Outono Vivo na ilha Terceira, onde atuou no passado dia 28 de novembro, e ficou a conhecer melhor o projeto coletivo Avalanche, no qual a artista é membro-fundador, e o álbum de estreia que será lançado no dia 18 de novembro que conta com a participação da jovem açoriana nos temas “Neblina” e “Corta-Chamas”. Sara revelou também estar a trabalhar num projeto a solo, produzido pelo músico terceirense Cristóvam.
RTP-Açores – A Sara está de volta à Terceira, para atuar no festival Outono Vivo. De que modo vê este regresso à Academia de Juventude e das Artes da ilha Terceira?
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Estou muito feliz por voltar aqui, porque toquei aqui, na Academia, há oito anos. Estive a fazer as contas há bocado e já foi para aí há oito anos… e é muito bom poder voltar num contexto diferente, mais velha, a tocar músicas que na altura nem existiam e eu ainda nem as tinha escrito e por isso estou muito feliz.
[Excerto do tema “Sunday Riddles”, tocado ao vivo]
RTP-Açores – Qual é o objetivo do projeto Avalanche e de que modo está envolvida nele? Como surgiu a ideia do “Volume I”?
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A Avalanche tem sido um projeto de paixão assim… muito incrível. A ideia é sermos um coletivo de pessoas criativas. Nasceu em 2020 com o lançamento de “Rest”, uma música que é uma colaboração entre mim, o LEFT. e o Luar, que são dois artistas do continente. E nasceu aí.
[Excerto do tema “Rest”]
Sou a única açoriana, sim. Temos os nossos membros core, digamos assim, que sou eu e os membros fundadores desde 2020 e pronto. Mas depois, na verdade, não há core members. Ao fim e ao cabo, nós acabamos por fazer o trabalho mais chato, entre aspas, tomar decisões e assim, para fazer as coisas acontecerem. Mas nós somos uma comunidade, é esse o nosso objetivo. E até agora temos estado a fazer alguns eventos writing camps. Nós, basicamente, juntamos vários artistas num estúdio em Paço de Arcos, o Great Dane Studios, e pomos a malta em vários estúdios diferentes, várias salas diferentes, durante duas ou três horas e depois da hora do almoço trocam os grupos todos outra vez e [realizam-se] mais sessões durante a tarde e no fim fazemos uma listening session de tudo o que aconteceu, aquilo que foi criado, os demos, mas sem pressão. Às vezes sai e às vezes não sai. Mas a ideia é a malta se juntar para criar sem pressão. Digamos que é, tipo, uma residência artística muito curta. São umas horinhas que as pessoas passam umas com as outras dentro de um estúdio, a compor, a criar e a escrever e depois o que sai dessas sessões e o que sai desses writing camps nós filtramos. É ali espremido. E nós percebemos que músicas poderão avançar. Depois falamos com os artistas, também percebemos se eles estarão interessados em lançar e acabar aquele demo que começaram, alguns podem estar, outros não e o álbum Avalanche que vai sair agora em novembro é um, digamos, best of desses writing camps que nós fizemos. Convidámos as pessoas que fizeram esses demos para acabarem as músicas. Fizemos mais sessões e pronto, acabámos com dez canções que envolvem 18 artistas diferentes. São todos nacionais, alguns com raízes cá e lá, mas estão todos a viver no continente, em Portugal continental, neste momento. E é um disco todo cantado em português.
RTP-Açores – Recentemente foi lançado o tema “Neblina”, o quarto single de antevisão do álbum “Volume I”. Como foi a experiência de participar na produção deste tema e no videoclip?
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A “Neblina” foi agora o single que lancei com o Luar e a Rita Onofre, que são dois grandes amigos, mas também são dois grandes artistas que eu admiro muito. Então, nós marcámos uma sessão os três, “vamos sem planos, sem ideias, vamos saber o que acontece, se surgir alguma coisa, fixe, se não surgir, a gente diverte-se um bocado e toca um bocadinho e pronto e partilha um serão diferente”. E logo na primeira sessão, basicamente, a “Neblina” surgiu… os versos e o refrão, ali… o sumo principal, digamos, da música. E nós logo na primeira sessão percebemos que tínhamos ali alguma coisa que queríamos acabar. Foram três sessões e estava pronta. Foi a primeira sessão em que não existia nada, depois percebemos que havia ali qualquer coisa e fizemos uma segunda sessão e uma terceira sessão e ficou pronta a música. E é uma colaboração minha e da Rita Onofre, nós fizemos a letra, a harmonia e as vozes e compusemos essa parte e o Luar que produziu a música e fez parte do processo de composição musical, também. E então foi basicamente isso. Nós os três em estúdio, o Luar depois sacou daqueles harmónicos, daqueles acordes do início da música, eu e a Rita ficámos a compor por cima disso, juntas. Até foi um processo super gratificante escrever com a Rita, porque foi uma coisa muito espontânea, muito natural. Não houve, assim, grandes bloqueios. Quando havia um bloqueio, nós conseguimos desbloquear cinco minutos depois. Se calhar foi sorte, mas desta vez correu tudo super bem e depois decidimos lançar a música e já está cá fora.
[Excerto do tema “Neblina”]
O videoclip está… nós ficámos todos satisfeitos com o resultado, foi uma equipa maravilhosa a trabalhar nele – o Daniel, o Edgar e o Eduardo, os três que estão mais na parte da câmara e da imagem, porque depois há várias pessoas que estão envolvidas na produção e na maquilhagem e tudo isso. Nós tivemos a sorte de trabalhar com pessoas muito talentosas e muito boas, o que também é super importante. E foram quatro dias de gravações que nós fizemos em meses diferentes. Portanto, foram dois dias num mês e dois dias no outro, porque… disponibilidades, as pessoas com as suas agendas, com os seus calendários, somos também todos artistas, temos todos os nossos compromissos. Foi uma ideia que o Gordon nos apresentou – o Gordon é o Daniel Gordon, o realizador – apresentou-nos essa ideia. Nós explicámos mais ou menos aquilo que imaginávamos para a “Neblina”, as cores e assim, a vibe entre aspas, digamos. Ele conseguiu ler isso muito bem e apresentou-nos esta ideia para o videoclipe, da porta, que é uma ideia que nós temos para a Avalanche em si, quase como se houvesse uma porta que liga as músicas umas às outras, tipo a porta do álbum, que é o fio conetor de tudo. E conseguimos encaixar essa ideia aqui com, obviamente, o talento deles e depois tudo aquilo que eles conseguiram trazer para a câmara e que, no fim, ficou muito bonito.
RTP-Açores – Estando a Sara a residir nos Açores e simultaneamente a colaborar no projeto Avalanche, no continente, como é que organiza a sua vida profissional? Quanto a projetos pessoais, o que podemos esperar da Sara nos próximos tempos?
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Eu associo a época baixa, digamos… à época de compor, à época criativa, de estar a trabalhar mais no backoffice. Tenho estado maioritariamente por Lisboa a gravar, a compor, focada também na Avalanche e no meu projeto a solo, mas depois ali naqueles três, quatro meses de época mais alta estou maioritariamente em São Miguel, nos Açores. Porque… pronto, concertos ao vivo… e mais trabalho e tudo isso, então acabo por andar sempre um bocadinho cá e lá, conforme é necessário. Tenho estado a colaborar com pessoas, tenho estado a experimentar muita coisa e a perceber também o caminho que quero seguir agora nos próximos tempos, mas sim, tive também aquela experiência com a Yamaha em Barcelona [WAY UP – House of Talents], da residência artística. E sim, vão sempre aparecendo umas coisinhas, felizmente, que não são necessariamente música ao vivo, concertos ao vivo, mas tudo o que existe à volta disso, desde gravações, a colaborações, projetos, tudo isso.
A título individual estou agora bastante focada no meu projeto solo, porque quero, assim que possível, lançar música nova minha. Tem sido incrível colaborar com estas pessoas. Aliás, quando sair o álbum Avalanche, há lá mais uma música na qual eu participo, com o LEFT. que se chama “Corta-Chamas”, portanto, é mais uma colaboração a sair. Mas preciso… sinto que quero muito voltar às minhas raízes, digamos, e lançar a música do meu projeto a solo e do meu projeto principal e espero que não demore muito tempo. Posso adiantar já que, o projeto vai ser produzido pelo Cristóvam, um músico terceirense que é também um grande amigo meu e um artista que eu muito admiro e vamos agarrar nesse projeto juntos. E estou muito ansiosa e muito entusiasmada para lançar essa música em breve. É sempre difícil prever quando é que vamos lançar música que está agora a ser gravada ou a começar a ser gravada, porque há muitas vertentes à mistura, mas sim, nos próximos meses.