Vivemos saturados de comunicação, informação e de imagem.
Uma cultura de imagem domina tudo e todos. Até porque, tirando algumas excepções, os audiovisuais não exigem esforço para serem seguidos, são narcotizantes, não implicam que se pense, se reflicta, o que é ideal nos tempos de grandes preocupações como os actuais. (Ver televisão e visionar filmes não exige tanta concentração como ler um romance literário, por exemplo).
Essa cultura de imagem sobrepôs-se às outras linguagens, sobretudo à escrita. Diz o ditado que uma imagem vale mil palavras. Mas o contrário é igualmente verdadeiro: há palavras que valem mil imagens. Refiro-me à boa poesia e à boa literatura. E também à boa música que também é feita de imagens. Bom seria que, de vez em quando, descobríssemos a graça de Schubert, as belas dolências de Chopin, a rêverie de Strauss, as grandiosas harmonias de Beethoven, as belas melodias de Mozart… Até porque podemos fazê-lo de graça e sem sair de casa e dos smartphones…
As novas tecnologias da informação e da comunicação, a par das linguagens pragmáticas do económico, do social e do político tomam hoje conta das nossas vidas e, cada vez mais, vamos perdendo o sentido do sonho e da utopia. A propósito, lembro que Sophia de Mello Breyner concebia uma Escola, segundo o modelo da Grécia Antiga, em que apenas se ensinasse Poesia, Música, Dança, Teatro, Desenho e Ginástica.
Pode ser utopia, mas a verdade é que o insuspeito neurocientista António Damásio já provou e comprovou que, por si só, as ciências e as matemáticas não fazem cidadãos…
A comunicação generalizada deu no que deu: assistimos hoje, nas redes sociais e não só, à legitimação do insulto, ao triunfo da desinformação e das fake news e a toda uma avalanche de parvoíces. Não há muitos anos falava-se do idealismo futurista da Internet, mas esta tornou-se numa fonte de destruição e receio. E quando, na cabeça de muita e desvairada gente, deixa de haver uma distinção clara entre o que é verdadeiro e o que é falso, é óbvio que estamos perante uma séria ameaça à democracia.
Os nossos jovens, nativos digitais, passam a vida nas redes sociais (rima e é verdade). Comunicam muito mas falam pouco. Por isso estão cada vez mais comunicativos, mas menos cultos; mais informados, mas menos eruditos. E o resultado salta à vista de todos: assistimos, no dia-a-dia, a uma gritante ausência de referências, princípios e valores, a vazios ideológicos e a muitas e desvairadas formas de niilismos culturais…
Muitos desses jovens entregam-se, dia e noite e sem a supervisão dos pais, aos jogos electrónicos e, no dia seguinte, aparecem nas aulas mal dormidos e com olheiras… Convirá não esquecer que, segundo a Organização Mundial de Saúde, a dependência desses jogos pode inclusivamente levar à doença mental…
Vivemos a ditadura da imagem que é também a ditadura dos algoritmos. Estamos rodeados de algoritmos por todos os lados. Porém, é preciso dizer que há mais vida para além dos algoritmos…