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Este conteúdo fez parte do "Blogue Graciosa Online", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de A velha Casimira
Graciosa Online 14 jun, 2022, 23:29

A velha Casimira

Crónica de Victor Rui Dores

Hoje já ninguém fala nem escreve sobre as viandeiras. Mas elas fizeram parte dos mais
antigos regimentos: ajudavam os militares quer em tempo de guerra quer em tempo de paz,
lavando-lhes as fardas, remendando a roupa, fazendo comida e, muito principalmente,
lembrando-lhes que eram homens… 

Era no tempo em que se metiam mulheres dentro das casernas, e disso dá conta o nosso
cancioneiro. Atente-se nestas duas quadras: 

               I 
– Onde leva a moça, 
           senhor capitão? 
– Levo-a roubada 
          p´ró meu batalhão. 
              II 
– Onde leva a moça, 
          senhor coronel? 
– Levo-a roubada 
          para o meu quartel. 
Para mim, a velha Casimira foi uma espécie de viandeira. Conheci-a nos anos 60 do século
passado, ali para os lados dos Quatro Cantos, em Angra do Heroísmo, era ela uma criatura
geniosa, sempre descomposta e desgrenhada, corpo flácido, a pele macilenta, os olhos encovados,
os lábios mirrados e trocistas… 
A velha Casimira
Havendo praticado a mais velha profissão do mundo, gabava-se de, quando nova, ter sido
uma das mulheres mais belas da ilha Terceira, e, com amarga saudade, dizia a todos que fora
possuída por metade da população masculina de Angra: comerciantes, funcionários públicos,
operários, pescadores, caixeiros-viajantes e magalas do BI 17. 
Casimira saciou também a fome de americanos da Base das Lajes, de marinheiros de
fragatas e de outros aventureiros desembarcados no Porto de Pipas. Foi escrava do prazer, rainha
do deboche, travando inúmeras batalhas nos lençóis enxovalhados de maridos respeitáveis, mas
insatisfeitos por suas legítimas esposas… 
Entregando-se a legiões de homens e jovens mancebos, não conheceu senão a profunda
solidão. Foi atriz de si própria e fez da sua vida uma farsa e um disfarce, encenando sempre falsas
composturas e falsos orgasmos… Ela, a fêmea fácil, a órfã de pai e mãe e sem família. Ela, a puta
arrastada pela má vida, chamando os homens para o vão das portas. Ela, a sempre desejada e a
sempre repelida. Ela, a sem vergonha, o escarro da vizinhança, o vómito da sociedade, bocejando
o tédio de ser mulher necessitada de amor. Houve só um homem que amou por dentro da sua
solidão, mas ele deixou-a e embarcou para a América. Todos, todos saciaram a sede de seus seios
em noites de sexo sem ternura. E depois partiam, deixando-a extenuada, no abandono de uma
nota de 50 escudos. 
Casimira chegou a lavrar esperanças e esteve mesmo para ser “integrada socialmente”.
Logrou um emprego digno como rececionista de uma pensão e, por algum tempo, teve uma vida
séria e honesta. Porém, a corrupção reinante arrastou-a para a inquietação e para o inconcebível
peso de homens sombrios e vorazes que a aniquilaram… 
“Velha como as carochas”, ela ia invariavelmente para o portão do Liceu e metia-se com os
rapazes, dizendo: “Perna boa! Perna boa é a da Casimira!”. O contínuo telefonava para a
esquadra. Vinha o polícia e dizia: 
– Casimira, vais p´rá cadeia. 
Então ela aproximava-se do agente e, com um sorriso lascivo, respondia:
– Ah, amor, só se for para a cadeia dos teus braços! 
A estudantada ria-se. Sem saber que, por vezes, a vida é uma ilusão perversa. 




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