“A minha Pátria é a Língua Portuguesa”.
Fernando Pessoa
Passei-me ontem dos carretos ao ouvir, num canal televisivo e pela boca de uma jovem
repórter, esta preciosíssima calinada: “Houveram muitas pessoas na manifestação”.
repórter, esta preciosíssima calinada: “Houveram muitas pessoas na manifestação”.
Não sou linguista nem gramático, mas custa-me ver maltratada a língua portuguesa nos
meios de comunicação social e não só. São erros de ortografia e pontapés na sintaxe a rodos. As
causas e consequências são muitas e, num país onde há mais telemóveis do que habitantes, basta
ver o que se passa nas desvairadas redes sociais… Quem não lê, fala mal e escreve pior. E, já se
sabe: a massificação do ensino e a subsequente baixa dos níveis de exigência que, não raro, toca
as raias do facilitismo, deu no que deu…
meios de comunicação social e não só. São erros de ortografia e pontapés na sintaxe a rodos. As
causas e consequências são muitas e, num país onde há mais telemóveis do que habitantes, basta
ver o que se passa nas desvairadas redes sociais… Quem não lê, fala mal e escreve pior. E, já se
sabe: a massificação do ensino e a subsequente baixa dos níveis de exigência que, não raro, toca
as raias do facilitismo, deu no que deu…
Seguidor atento da televisão, da rádio e dos jornais, tenho vindo a colecionar fífias
linguísticas, algumas das quais aqui me proponho partilhar com os meus prezados leitores.
linguísticas, algumas das quais aqui me proponho partilhar com os meus prezados leitores.
1. Duplos particípios passados
Diz o locutor: “Muito obrigado por ter aceite o meu convite”. Erro de lesa-língua. A forma
correta é: “Muito obrigado por ter aceitado o meu convite”.
correta é: “Muito obrigado por ter aceitado o meu convite”.
“Ele tem ganho muito dinheiro”, quando o correto é: “Ele tem ganhado muito dinheiro”.
(O dinheiro é que pode ser mal gasto)…
(O dinheiro é que pode ser mal gasto)…
O mesmo se passa com os verbos empregar e matar. “A empresa tem empregue muitos
jovens em busca do primeiro emprego”, quando lá devia estar tem empregado. “Os talibans têm
morto muitos civis”; têm matado é que está certo.
jovens em busca do primeiro emprego”, quando lá devia estar tem empregado. “Os talibans têm
morto muitos civis”; têm matado é que está certo.
2. Postura
“Não gosto da postura deste governo”, disse um deputado da oposição, e é mais uma
cornada na Língua Portuguesa. Postura deve aqui ser substituído por atitude. E isto porque, em
rigor, a postura remete para: a) deliberações camarárias; b) certa posição do corpo; c) os ovos que
as galinhas põem durante um certo período. A menos que, na frase acima referida, se esteja a
confundir governo com galinheiro…
cornada na Língua Portuguesa. Postura deve aqui ser substituído por atitude. E isto porque, em
rigor, a postura remete para: a) deliberações camarárias; b) certa posição do corpo; c) os ovos que
as galinhas põem durante um certo período. A menos que, na frase acima referida, se esteja a
confundir governo com galinheiro…
3. Redundâncias
“Há cinco anos atrás” é o mesmo que dizer entrar para dentro, sair para fora, subir para
cima ou descer para baixo. Trata-se de uma tautologia ou redundância. Dever dizer-se ou
escrever-se: “Há cinco anos”.
cima ou descer para baixo. Trata-se de uma tautologia ou redundância. Dever dizer-se ou
escrever-se: “Há cinco anos”.
4. Colocação do verbo no plural
“Este foi um dos livros que mais me agradou”. Erro crasso. Deve dizer-se: “Este foi um dos
livros que mais me agradaram (um de entre muitos que li).
livros que mais me agradaram (um de entre muitos que li).
A respeito de livros, eis um outro erro comum. “O livro que mais gosto é…”. A forma
correta: “O livro de que mais gosto é…”.
correta: “O livro de que mais gosto é…”.
5. Evacuar
“Os espetadores foram evacuados do teatro porque deflagrou um grande incêndio”. Erro
de palmatória. Evacuam-se espaços e não pessoas. “O teatro foi evacuado de todos os
espetadores, porque deflagrou um grande incêndio”. Assim é que está certo.
de palmatória. Evacuam-se espaços e não pessoas. “O teatro foi evacuado de todos os
espetadores, porque deflagrou um grande incêndio”. Assim é que está certo.
6. Verbos regidos por preposições
Da boca de um político da nossa praça ouvi esta: “Este não é o país que lutámos durante
mais de 40 anos de democracia”. O que ele deveria dizer: “Este não é o país por que lutámos…”.
mais de 40 anos de democracia”. O que ele deveria dizer: “Este não é o país por que lutámos…”.
E cometeu um erro linguístico o maestro que perante vasta plateia assim afirmou: “A
música é das artes que mais gosto”. O correto é: “A música é a arte de que mais gosto”.
música é das artes que mais gosto”. O correto é: “A música é a arte de que mais gosto”.
“O réu confessou-se arrependido do crime que era acusado”. Correção: “… de que era
acusado”.
acusado”.
“Penso eu de que…” – barbaridade proferida em tempos por alguém mediático e que
contagiou muita e boa gente, incluindo alguns doutorados pela Internet… O verbo pensar pede
que: “Penso que ele vai progredir na profissão”.
contagiou muita e boa gente, incluindo alguns doutorados pela Internet… O verbo pensar pede
que: “Penso que ele vai progredir na profissão”.
7. Comparação
Ouvi da boca de um famoso jogador de futebol. “Os treinadores estão hoje melhor
preparados do que noutros tempos”. Supina asneira. “Os treinadores estão hoje mais bem
preparados do que noutros tempos”. Assim é que é.
preparados do que noutros tempos”. Supina asneira. “Os treinadores estão hoje mais bem
preparados do que noutros tempos”. Assim é que é.
8 Estrangeirismos evitáveis
Os não evitáveis são os que, por via do desenvolvimento tecnológico, são intrusos no nosso
léxico e não há nada a fazer, até porque não há para eles equivalentes em português: backup,
hardware, software, pen drive, etc.
léxico e não há nada a fazer, até porque não há para eles equivalentes em português: backup,
hardware, software, pen drive, etc.
Mas há estrangeirismos, neste caso francesismos, que podemos e devemos evitar.
Exemplos: colocar questões (“poser des questions”) e constatar (“constater”), que devem ser
substituídos por fazer perguntas e verificar, respetivamente.
Exemplos: colocar questões (“poser des questions”) e constatar (“constater”), que devem ser
substituídos por fazer perguntas e verificar, respetivamente.
E abundam anglicismos evitáveis, como por exemplo: ranking (classificação), shutdown,
(encerramento, suspensão), performance (atuação), impeachment (impugnação), etc.
(encerramento, suspensão), performance (atuação), impeachment (impugnação), etc.
Há que estar atento aos coveiros da nossa língua pátria – a 5ª mais falada em todo o
mundo.
Victor Rui Dores
mundo.
Victor Rui Dores