No princípio eram animadores radiofónicos e, com o passar do tempo, foram eles que, de forma séria e honesta, seleccionavam os temas musicais e reproduziam-nos em pistas de dança, clubes, discotecas, boîtes e outros lugares públicos. E, ao fazê-lo, acompanharam a evolução da tecnologia: do gramofone ao vinil; do CD ao mp3.
DJ, sigla em inglês, significa “disc jockey”. E, para mim, um DJ é um animador e um técnico, não é um artista. Artista é aquele que obviamente faz arte. Um DJ limita-se a pôr música a tocar, por isso é um manipulador, um processador de efeitos musicais. Comprovei isso mesmo bem recentemente, numa destas estrepitosas noites de Verão.
E o que vi eu? Assisti à performance de um DJ, vindo do outro lado do mar, rotulado de “artista profissional”. Só que o trabalho deste “artista” é de uma vigarice pegada, pois já vem tudo programado numa pen que ele introduz no computador, recorrendo a software apropriado: um mixer, caixas de som, dois gira-discos, dois pratos, um microfone e o resto é estar ali a animar a festa, com a ajuda de vídeos projectados num écran, de luzes (psicadélicas) a varrerem a pista, e fumos que não vêm só da máquina que os expele…
Munido de auscultadores, tocando em botões e rodando (com pretensa perícia) um disco vinil para trás e para a frente, ele incentiva a malta a “fazer ruído” e a “abanar o capacete”, o que não é difícil pois muitas daquelas pessoas estão completamente alcoolizadas, alucinadas, ou simplesmente eufóricas; por isso saltam, aos tropeções e em total desvario, como se não houvesse amanhã… E o que poderia soar a hip-hop, disco, dance, electro, house, drum & bass, lounge ou trance redunda em ruído de ensurdecedores decibéis. Sim, aquilo não é música: é estridência, pancadaria, chinfrineira. E tudo isto tem um nome: embuste!
Embuste e vigarice, porque é sabido que alguns DJ´s recebem chorudos cachets, muitas das vezes superiores aos dos verdadeiros artistas. Nada tenho contra os DJ´s, não sou moralista e bem sei que estamos perante um fenómeno que se prende à (capitalista) lei da oferta e da procura, enfim, é o mercado a funcionar no seu esplendor…
Mas é preciso dizer a essa desvairada gente que a música, para o ser, pressupõe melodia, harmonia e ritmo. E que, ontem como hoje, a arte começa onde a técnica acaba. Dou este triste exemplo: um destes dias uma jovem compositora portuguesa, em entrevista televisiva, gabava-se, despudoradamente, de não saber tocar nenhum instrumento musical, dizendo que compunha diretamente no computador recorrendo a programa adequado. Isto é o cúmulo, e seria cómico se não fosse trágico.