e de um presidente digno de ser assassinado
O lavagante, crustáceo de tenebrosa memória, é paciente, obstinado e terrível nos seus desígnios. Ele serve o safio (ou congro) que está nas tocas submersas do mar, levando-lhe comida todas as horas – e fica a vê-lo a engordar, a engordar até ficar bloqueado, incapaz de sair do buraco porque o corpo cresceu demais, enovelou-se e não cabe na abertura por onde podia libertar-se. É nessa altura que o ardiloso lavagante aparece à boca da toca do safio, mas desta vez já não é servil nem traz comida. Vem de garras afiadas devorar o grande prisioneiro que alimentou durante tanto tempo.
Para mim, Putin é um outro lavagante. Porque este russo é um ditador sanguinário, alienado e psicopata que invadiu um país soberano e iniciou uma guerra ilegal, ilegítima e criminosa contra amigos e familiares. Digo guerra. Deixemo-nos de eufemismos. O que se está a passar na Ucrânia não é uma “operação militar especial”, não é um conflito, nem é uma invasão ou ocupação – é uma GUERRA!
E nunca como agora faz tanto sentido a quadra de António Aleixo:
“À guerra não ligues meia
Porque os grandes cá da terra
Tendo a guerra em terra alheia
Não querem que acabe a guerra”.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, na madrugada de 24 de fevereiro de 2022 e consequente bombardeamento dos fundamentos democráticos, entrará para a História como o acontecimento mais disruptivo a seguir à queda do Muro de Berlim, em 1989, e aos ataques às Torres Gémeas, em 2021. Desgraçadamente, 77 anos depois, a guerra voltou à Europa. Lá longe, a 6.000 km de nós, os ucranianos resistem, heroicamente, à tirania. E, no mundo, nada voltará a ser como dantes.
Francis Fukuyama estava completamente errado ao antever, em 1992, um romântico “fim da História”. A História repete-se e são enormes os perigos se não aprendermos com os erros do passado. Porque é certo e sabido que quem esquece o passado, arrisca-se a vivê-lo outra vez.
Há mais de um mês que assistimos, indignados, à infame destruição de cidades ucranianas num dramático requiem de violência, sofrimento e morte. As imagens que diariamente vemos na televisão são chocantes e horrendas! Ataques impiedosos a moradias, hospitais, maternidades, escolas… Milhões de refugiados. Massacres contínuos e continuados. Atrocidades brutais contra civis. Centenas de feridos e muitas pessoas desaparecidas. Um número devastador de mortos, incluindo crianças, em condições miseráveis. E tudo isto tem um nome: genocídio!
Todos sabemos como as guerras começam, mas não como elas acabam. Está difícil o cessar-fogo e a paz não está para breve. De resto, esta guerra coloca o mundo à beira de um cenário pré-apocalíptico, em que se multiplicam as vozes a admitir o uso de armas nucleares, químicas e biológicas.
É por isso que Putin é um outro Hitler que coloca a Europa e o mundo à beira de uma catástrofe de proporções imprevisíveis. Estamos perante uma guerra que fere profundamente quem, como eu (que me orgulho de ser produto do 25 de abril de 1974) defende e acredita nos ideais democráticos, no princípio da soberania territorial e na autodeterminação dos povos.
A Rússia precisa de um novo Gorbachov capaz de entender que todos fazemos parte de uma casa comum. Três décadas depois, queremos novamente ouvir palavras como Glasnost (que significa abertura, transparência) e Perestroika (reconstrução).
Os esforços diplomáticos para pôr fim à guerra na Ucrânia não estão a funcionar. As conversações (que não chegam sequer a negociações) são uma fantochada. Putin, um mentiroso compulsivo, pode perder esta guerra e vir a ser o carrasco da Rússia moderna. Para travar as suas ambições czaristas e os seus desígnios imperialistas, acho, muito sinceramente, que só há uma solução para este conflito armado: é alguém do Kremlin considerar que Vladimir Putin é um presidente digno de ser assassinado…
Até lá, glória à Ucrânia, SLAVA UKRAINI.