A Base Aérea das Lajes foi, a nível Açores, o grande centro de difusão de géneros musicais como o jazz e a big band, primeiro com as bandas militares inglesas (“station bands”) e, mais tarde, com os concertos promovidos pela United Service Organization, que angariava fundos para promover espetáculos de entretenimento para os militares norte-americanos.
É neste contexto que, acompanhado pelo comediante Phil Silvers (de cachimbo, na foto), Frank Albert Sinatra (1915-1998) passou pela ilha Terceira. Decorria o ano de 1945 e o cantor, já então com uma carreira brilhante, atuou para as forças militares norte-americanas estacionadas na Base das Lajes, naquele que foi o seu primeiro concerto em território português.
Poucos foram os terceirenses que ouviram “the voice”, mas, segundo relato do historiador Valdemar Mota nas suas Obras Completas, vol. III (Turiscon Editora, 2020), Sinatra, numa breve viagem por Angra do Heroísmo, passeou-se pela Rua da Sé, deu autógrafos e meteu conversa com alguns comerciantes, nomeadamente o terceirense José Pinto Enes.
Segundo aquele historiador, Sinatra viu e gostou de certa colcha regional jorgense e, de tal modo se enamorou dela que, vai daí, propôs ao referido comerciante negócio de a trocar por uma máquina fotográfica que tinha consigo, uma Kodak. Negócio aceite e fechado. Sinatra levou consigo a vistosa colcha para os Estados Unidos e a Kodak continuou na Terceira a sua função de “tirar retratos”… Mais tarde, falecido José Pinto Enes, a sua viúva, testemunha do referido episódio, ofereceu a máquina fotográfica a Valdemar Mota, “que muito prezo e guardo como preciosa relíquia”.
No seu livro Sob as Asas do Açor, Uma História da Aviação nos Açores (Letras Lavadas edições, 2008), Guy Warner refere que, para além de Sinatra, passaram pelas ilhas Terceira e Santa Maria outros passageiros famosos como Bing Crosby, Bob Hope, Arturo Toscanini, Charlton Heston, Vivien Leigh e Glenn Miller (que na Base das Lajes deu um dos seus últimos concertos). Esse era o tempo das escalas técnicas nos aeroportos daquelas duas ilhas, verdadeiras metrópoles da aviação do Atlântico Norte. Por estas duas plataformas aéreas passaram gentes que chegavam e partiam, falando quase todas as línguas do mundo, viajando nos elegantes Super Constellation da TWA e nos sólidos DD6 da Pan American… E como esquecer o belo azul da KLM, as cores garridas da VARIG, da Iberia, da Air France, da Avianca?… O sonho ao alcance do olhar. E as dinâmicas sociais, comerciais e musicais geradas nas mencionadas ilhas.
De referir que Frank Sinatra só voltaria a Portugal por mais duas vezes: uma para jogar golfe no Algarve, na década de setenta, e outra para atuar no Porto (estádio das Antas), num memorável concerto realizado no dia 8 de junho de 1992, tinha o cantor 76 anos de idade. E até nos deixar, ele continuou a ser “a voz” e um dos maiores artistas do século XX.