Diziam os argonautas quinhentistas que “navegar é preciso, viver não é preciso”.
Tal significa que navegar é sonhar, ousar, planear, arriscar, empreender, realizar. É disto
que nos dá conta o livro Volta aos Açores em quinze dias – diário de bordo de uma viagem para
(não) esquecer (Tinta da China, 2022), da autoria de José Pedro Castanheira, nome associado ao
jornalismo e à grande reportagem de investigação, autor com mais de meia dúzia de livros
publicados, com especial destaque para a biografia, em dois volumes, de Jorge Sampaio.
que nos dá conta o livro Volta aos Açores em quinze dias – diário de bordo de uma viagem para
(não) esquecer (Tinta da China, 2022), da autoria de José Pedro Castanheira, nome associado ao
jornalismo e à grande reportagem de investigação, autor com mais de meia dúzia de livros
publicados, com especial destaque para a biografia, em dois volumes, de Jorge Sampaio.
Com avisado Prefácio de Onésimo Teotónio Almeida, o livro em apreço tem formato de
pocket book e está escrito em forma de “diário de bordo”. Trata-se de um registo de
acontecimentos, impressões, experiências, cumplicidades, convívios e cavaqueiras de 5
“intrépidos” velejadores amadores (o autor, um seu irmão, um seu filho, um seu sobrinho e um
velho amigo, o comandante “skipper”) que, sedentos de aventuras marítimas, decidiram quebrar a
pardacenta rotina de Lisboa e partir em busca do sonho, num projeto que, numa primeira fase,
visava aportar a 7 das 9 ilhas dos Açores (de fora ficaram Flores e Corvo). E assim, no mês de maio
de 2022, alugaram, na cidade Horta, um veleiro, o “Avanti”, e zarparam numa planeada viagem de
15 dias pelos mares açorianos – em jornada que será repleta de contratempos, reveses, fracassos
e muitas peripécias… Com desfechos surpreendentes, imprevistos e imprevisíveis…
pocket book e está escrito em forma de “diário de bordo”. Trata-se de um registo de
acontecimentos, impressões, experiências, cumplicidades, convívios e cavaqueiras de 5
“intrépidos” velejadores amadores (o autor, um seu irmão, um seu filho, um seu sobrinho e um
velho amigo, o comandante “skipper”) que, sedentos de aventuras marítimas, decidiram quebrar a
pardacenta rotina de Lisboa e partir em busca do sonho, num projeto que, numa primeira fase,
visava aportar a 7 das 9 ilhas dos Açores (de fora ficaram Flores e Corvo). E assim, no mês de maio
de 2022, alugaram, na cidade Horta, um veleiro, o “Avanti”, e zarparam numa planeada viagem de
15 dias pelos mares açorianos – em jornada que será repleta de contratempos, reveses, fracassos
e muitas peripécias… Com desfechos surpreendentes, imprevistos e imprevisíveis…
A vogar no mar alto, José Pedro Castanheira, assumindo-se como “narrador”, “cronista”,
“cronista-mor”, “escriba”, “repórter” e “diarista”, larga amarras na aventura da escrita, aparelha o
texto, riza as ideias e navega contra ventos e marés. Aprendendo a conhecer o ritmo das ondas,
ele e os seus frenéticos e tumultuosos companheiros de jornada (3 dos quais reformados),
confinados nos 11,5 metros de comprimento do iate, movimentam-se num contexto de
inquietação e incerteza, devido às oscilações meteorológicas dos Açores…
“cronista-mor”, “escriba”, “repórter” e “diarista”, larga amarras na aventura da escrita, aparelha o
texto, riza as ideias e navega contra ventos e marés. Aprendendo a conhecer o ritmo das ondas,
ele e os seus frenéticos e tumultuosos companheiros de jornada (3 dos quais reformados),
confinados nos 11,5 metros de comprimento do iate, movimentam-se num contexto de
inquietação e incerteza, devido às oscilações meteorológicas dos Açores…
Mas seguem em frente, porque se a viagem é uma forma de procura e de (re)descoberta,
a errância é a sua forma de perseguir um objetivo que lamentavelmente não será de todo
alcançado. Aliás, nesta expedição náutica nada correu consoante o programado, incluindo “a
tormentosa e fracassada viagem à ilha Graciosa” (terra natal do autor destas linhas).
a errância é a sua forma de perseguir um objetivo que lamentavelmente não será de todo
alcançado. Aliás, nesta expedição náutica nada correu consoante o programado, incluindo “a
tormentosa e fracassada viagem à ilha Graciosa” (terra natal do autor destas linhas).
Os tripulantes do “Avanti” enfrentam muitos e múltiplos perigos e veem-se a braços com
arreliadoras vicissitudes: os dias tempestuosos, o mar agitado, as agonias do enjoo, o tédio do
“azorean torpor”, as intoxicações alimentares, a crise sísmico-vulcânica na ilha de São Jorge, as
viagens canceladas, o covid-19 e o isolamento profilático do autor… Mas tentam a todo o custo
superar as dificuldades. Nada do que aqui vem escrito é ficção. Acima de tudo, há que vencer o
cansaço e estar atento às vagas que fustigam a embarcação. Isto é: viajando no mar, eles viajam
por dentro de si próprios, dissecando no oceano a sua alma – como Vernet agarrado ao mastro do
navio para estudar as tempestades.
arreliadoras vicissitudes: os dias tempestuosos, o mar agitado, as agonias do enjoo, o tédio do
“azorean torpor”, as intoxicações alimentares, a crise sísmico-vulcânica na ilha de São Jorge, as
viagens canceladas, o covid-19 e o isolamento profilático do autor… Mas tentam a todo o custo
superar as dificuldades. Nada do que aqui vem escrito é ficção. Acima de tudo, há que vencer o
cansaço e estar atento às vagas que fustigam a embarcação. Isto é: viajando no mar, eles viajam
por dentro de si próprios, dissecando no oceano a sua alma – como Vernet agarrado ao mastro do
navio para estudar as tempestades.
Dotado de lucidez crítica e atento observador do real, José Pedro Castanheira (d)escreve,
de forma viva, detalhada e com grande sentido de ironia, as incidências a bordo do “Avanti”, por
um lado, e, por outro, o seu encantamento pelos lugares que, quando desembarcado, ele vai
relatando de forma minuciosa e com grande poder de pormenorização, dando-nos achegas, muito
objetivas, de natureza náutica, geográfica, histórica e científica sobre as ilhas que vai visitando. Ele
que, em outras ocasiões e em diferentes contextos, já havia estado nos Açores, sabe que visitar
este arquipélago não significa apenas ver paisagens – é, acima de tudo, um modo de sentir
atmosferas.
de forma viva, detalhada e com grande sentido de ironia, as incidências a bordo do “Avanti”, por
um lado, e, por outro, o seu encantamento pelos lugares que, quando desembarcado, ele vai
relatando de forma minuciosa e com grande poder de pormenorização, dando-nos achegas, muito
objetivas, de natureza náutica, geográfica, histórica e científica sobre as ilhas que vai visitando. Ele
que, em outras ocasiões e em diferentes contextos, já havia estado nos Açores, sabe que visitar
este arquipélago não significa apenas ver paisagens – é, acima de tudo, um modo de sentir
atmosferas.
Volta aos Açores em quinze dias – diário de bordo de uma viagem para (não) esquecer,
humaníssimo testemunho de um périplo marítimo, rico de espessura evocativa, é um livrinho
singular e intensamente visual que já coloquei na minha estante dedicada à literatura de viagens.
O que dele mais gostei? Sem dúvida a maneira como José Pedro Castanheira, enquanto narrador
omnipresente, assume a sua escrita e tudo faz para prender (seduzir) a atenção do leitor, bem
como o modo como ele lança olhares profundamente humanos sobre seus companheiros de
tripulação, tornando-os em verdadeiras personagens. (Lá diz o velho ditado náutico: “Se queres
ganhar ou perder um amigo, viaja com ele”). E aquilo que, à partida, poderia ser um mero e
factual diário de bordo, torna-se numa narrativa muito fluente que se lê com o mesmo prazer com
que se poderá ler um conto ou uma novela. Por isso recomendo a sua leitura. Porque dela saí
mareado de tanta navegação e com os olhos encharcados de tanta luz marítima.
humaníssimo testemunho de um périplo marítimo, rico de espessura evocativa, é um livrinho
singular e intensamente visual que já coloquei na minha estante dedicada à literatura de viagens.
O que dele mais gostei? Sem dúvida a maneira como José Pedro Castanheira, enquanto narrador
omnipresente, assume a sua escrita e tudo faz para prender (seduzir) a atenção do leitor, bem
como o modo como ele lança olhares profundamente humanos sobre seus companheiros de
tripulação, tornando-os em verdadeiras personagens. (Lá diz o velho ditado náutico: “Se queres
ganhar ou perder um amigo, viaja com ele”). E aquilo que, à partida, poderia ser um mero e
factual diário de bordo, torna-se numa narrativa muito fluente que se lê com o mesmo prazer com
que se poderá ler um conto ou uma novela. Por isso recomendo a sua leitura. Porque dela saí
mareado de tanta navegação e com os olhos encharcados de tanta luz marítima.