“O telemóvel é um apêndice natural das trompas de Eustáquio” Umberto Eco
Conheço-os bem porque com eles lido todos os dias. Compreendo-os, mas nem sempre os entendo. Vejo-os de iphones nas mãos, olhando fixamente os ecranzinhos, carregando freneticamente as teclas, alheados do mundo, em silenciosa comunicação e num autismo absoluto.
Imóveis com telemóveis, frívolos e irresolutos, não se relacionam entre si. Vazios de ideias e destituídos de pensamento crítico, vão partilhando frases feitas, lugares comuns, banalidades… Não falam, dialogam; não conversam, comunicam… Comunicam com o irreal, com o nada. Por isso são cada vez mais informados, mas menos reflexivos; mais comunicativos mas menos cultos; mais livres mas menos responsáveis; mais individualistas mas menos solidários.
São jovens que pediram tudo aos pais, e os pais deram-lhes tudo. Têm dificuldade em aceitar um “não”, desconhecem a disciplina e manifestamente não sabem lidar com a frustração. Vivem sem outro amanhã que não sejam as redes sociais. E nas redes sociais se enredam. Trocam o mundo real pelo mundo cibernético. Preferem o ciberespaço aos cafés. O digital ao analógico. De auscultadores e desligados do mundo, são alienados ao facebook (esse vírus infecto-contagioso), ao twitter, ao instagram…
Muitos são filhos únicos, mimados e superprotegidos por pais e mães inseguros, que estão em início ou em fase de consolidação de carreiras, com vidas muito atarefadas, o que lhes retira tempo para uma maior e melhor acompanhamento junto dos seus progenitores. Sentindo a pressão do quotidiano, e temendo não estarem a cumprir integralmente o seu papel de educadores, agarram-se aos rebentos e infantilizam-nos para lá do natural. (Numa outra crónica chamei-lhes “os meus alunos cutchi-cutchi”…).
De resto, as relações entre encarregados da educação e filhos horizontalizaram-se, isto é, deixaram de ser hierárquicas, e muitos pais encontram sérias dificuldades em controlar os miúdos em casa e, sobretudo, em impor regras, nomeadamente em termos de utilização da net. O ditado popular bem que avisa: “Casa de pais, escola de filhos”.
É importante dizer, aqui e agora, que há evidências que provam que o excesso de internet está a tornar os nossos jovens (e também os adultos) menos competentes e mais preguiçosos. E a dependência dos jogos de computador é já considerada, pela Organização Mundial de Saúde, como um problema de saúde mental.
Obviamente não cairei na esparrela de comparar a juventude de hoje com a mocidade do meu tempo, nem ousarei aqui afirmar que “no meu tempo é que era bom”. Nada disso. São tempos e gerações diferentes. Culturas e competências diferenciadas. Formas outras de encarar a educação. O que me chateia é assistir, nos dias que correm, a tanta ociosidade, a tanta selfie, a tanta autocontemplação, a tanto narcisismo, a tanta ostentação, a tanto exibicionismo, a tanta mesquinhez e a tanta palermice.
E certamente que não é isto que queremos para os nossos jovens.