Diáspora vem do grego clássico diasporá, que significa dispersão. Dispersão normalmente forçada de massas populacionais originárias de uma zona de terminada para várias áreas de acolhimento distintas.
Nos tempos que correm é muito vulgar o emprego de expressões como “a Diáspora Açoriana”, ou “os açorianos da Diáspora” em referência aos açorianos emigrados pelo mundo: nos Estados Unidos da América, no Canadá, no Brasil, no Uruguai, em Porto Rico e noutros países.
Mas, se quisermos ser rigorosos em termos semânticos, a palavra diáspora não deve, na minha opinião, ser utilizada em contexto de emigração açoriana. E explico porquê, lançando aqui alguns olhares ao contexto histórico (que de alguma forma também é bíblico) em que surge o termo diáspora.
E tudo começa em Canaã. Em Canaã, Terra Prometida, Terra da Promissão ou Palestina estabeleceram-se os Hebreus. Conduzidos por Moisés do Egipto – Êxodo – durante quarenta anos ao longo do deserto (atual península do Sinai), e chegados à Palestina foram os hebreus, nunca chamados “palestinianos”, regidos primeiramente por Juízes. Depois fizeram da Palestina uma monarquia florescente com os reis Saul, David e Salomão. A este sucedeu Roboão, e, no seu reinado, cerca de 930 A.C., a monarquia cindiu-se (o cisma das Dez Tribos). Ao norte, o reino de Israel, com a capital primeiro em Siquém, mais tarde em Samaria. Ao sul, o reino de Judá, com a capital em Jerusalém. Os Assírios, da Alta Mesopotâmia, com a capital em Nínive, conquistaram o reino de Israel. Várias deportações de Hebreus para Nínive. Tempos depois, Nabucodonosor, rei dos Caldeus, com a capital da Babilónia, conquistou Jerusalém (Sião) e o reino de Judá. E levou para a sua capital os Hebreus socialmente mais destacados em Jerusalém, e outros de classes sociais mais modestas. Foi, para os Hebreus, o Cativeiro da Babilónia.
Entretanto surge o Império Persa que sucedeu aos impérios assírios e caldeus. E no ano 538 A.C., Ciro, rei da Pérsia, autorizou o regresso dos Hebreus à pátria Jerusalém. E só por essa altura, quando se lhes permitiu o regresso de Babilónia para Jerusalém, começaram os Hebreus a ser designados por Judeus. Porquê? Porque para a Palestina voltaram quase somente as famílias da tribo de Judá, núcleo principal do antigo reino do mesmo nome. Por isso passou a chamar-se Judeia a parte da Palestina habitada por Hebreus, quase todos da tribo de Judá.
E os outros? Os que ficaram no reino do Norte, misturados com colonizadores assírios, a História deu-lhes o nome de Samaritanos (a parábola do bom Samaritano…). Mas grandes multidões de “israelitas” tinham sido antes deportadas para Nínive. E quando saiu o decreto de Ciro, muitos do reino de Judá permaneceram, dispersos, em Babilónia.
Temos, pois, Hebreus, agora Judeus, na Judeia (a parte da velha Terra Prometida), e Hebreus fora da Judeia, dispersos por Nínive e Babilónia. São os Judeus da Diáspora (dispersão).
No ano 449 A.C.N., terminaram as Guerras Pérsicas, entre a Grécia e a Pérsia. A Grécia venceu. E principia, na História, a Antiguidade Clássica. E a hegemonia política do mundo verdadeiramente culto transitou do Médio Oriente para a Europa Ocidental.
Ora, é verdade que os nossos emigrantes estão hoje dispersos por várias geografias. Mas essa dispersão não foi fruto nem de deportações forçadas, nem de perseguições, nem de exílios, como aconteceu aos Judeus. Porque a verdade é que ninguém emigra por vontade ou por gosto. A nossa gente emigrou por razões de ordem económica, numa altura em que Portugal vivia a ditadura da pobreza, do subdesenvolvimento e da intolerância.
É por isso que, em vez de utilizar a expressão “diáspora açoriana”, prefiro falar das nossas comunidades emigradas.