ou o Dia dos Cornudos
“Esta é a madrugada que eu esperava/ o dia inicial, inteiro e limpo/ onde emergimos da
noite e do silêncio/ e livres habitamos a substância do tempo”.
noite e do silêncio/ e livres habitamos a substância do tempo”.
Sophia de Mello Breyner, “25 de abril”
O 25 de Abril é só, e quase sempre, associado ao fim do regime autoritário, austero e
repressivo do Estado Novo, ao fim da Guerra Colonial e à instauração de um regime democrático.
É verdade que, a partir de 1974, começaram a fazer parte do quotidiano dos portugueses,
nomenclaturas que até então desconhecíamos: a liberdade de expressão, a igualdade dos
cidadãos, a justiça social, as eleições livres, o direito à greve, enfim, a democracia.
repressivo do Estado Novo, ao fim da Guerra Colonial e à instauração de um regime democrático.
É verdade que, a partir de 1974, começaram a fazer parte do quotidiano dos portugueses,
nomenclaturas que até então desconhecíamos: a liberdade de expressão, a igualdade dos
cidadãos, a justiça social, as eleições livres, o direito à greve, enfim, a democracia.
Mas convirá não esquecer que a Revolução do 25 de Abril de 1974 representa um marco
fundamental não apenas na história de Portugal do século XX, mas em toda a história da
nacionalidade. Com esta revolução não só se fechou um ciclo imperial iniciado com a expansão
marítima do século XV, como se abriu a via da integração numa nova entidade chamada
Comunidade Europeia. E, para nós, açorianos, a democracia trouxe-nos uma conquista
fundamental e, até ver, irreversível: a Autonomia político-administrativa. Com ela, abriram-se
novas possibilidades de desenvolvimento para estas ilhas.
fundamental não apenas na história de Portugal do século XX, mas em toda a história da
nacionalidade. Com esta revolução não só se fechou um ciclo imperial iniciado com a expansão
marítima do século XV, como se abriu a via da integração numa nova entidade chamada
Comunidade Europeia. E, para nós, açorianos, a democracia trouxe-nos uma conquista
fundamental e, até ver, irreversível: a Autonomia político-administrativa. Com ela, abriram-se
novas possibilidades de desenvolvimento para estas ilhas.
Queria também aqui lembrar que 25 de abril é o Dia de São Marcos, popularmente
conhecido por Dia dos Cornudos, acontecimento outrora festejado nas ilhas do Faial, Pico, Flores e
Corvo, mas hoje completamente extinto, suponho porque deixou de haver cornudos por estas
beiradas…
conhecido por Dia dos Cornudos, acontecimento outrora festejado nas ilhas do Faial, Pico, Flores e
Corvo, mas hoje completamente extinto, suponho porque deixou de haver cornudos por estas
beiradas…
Segundo o coronel Afonso Chaves, a festa do Dia dos Cornudos tem uma origem flamenga
e era, por excelência, a festa dos maridos supostamente atraiçoados.
e era, por excelência, a festa dos maridos supostamente atraiçoados.
A irmandade de São Marcos era constituída só por homens casados, que armavam um altar
com coroa de cornos muito bem ornamentados, e um corno maior em evidência no alto. Todos os
homens que por ali passavam eram obrigados a beijar o corno, o que provocava o riso e a chacota
da confraria. No Pico os devotos punham vinhos das suas adegas ao dispor dos irmãos de São
Marcos no dia 25 de Abril.
com coroa de cornos muito bem ornamentados, e um corno maior em evidência no alto. Todos os
homens que por ali passavam eram obrigados a beijar o corno, o que provocava o riso e a chacota
da confraria. No Pico os devotos punham vinhos das suas adegas ao dispor dos irmãos de São
Marcos no dia 25 de Abril.
Também nesse dia as freiras do Convento da Glória, na cidade da Horta, mandavam aos
membros da colegiada da igreja Matriz uma bandeja com coroa formada por pequenos cornos de
alfenim, tendo no centro flores artificiais e um corno maior destinado ao vigário. Raul Brandão,
que em 1924 viajou pelos Açores, dá conta deste acontecimento festivo no seu livro As Ilhas
Desconhecidas.
membros da colegiada da igreja Matriz uma bandeja com coroa formada por pequenos cornos de
alfenim, tendo no centro flores artificiais e um corno maior destinado ao vigário. Raul Brandão,
que em 1924 viajou pelos Açores, dá conta deste acontecimento festivo no seu livro As Ilhas
Desconhecidas.
O Dia dos Cornudos foi festejado até finais dos anos 70 e princípios dos anos 80 do século
passado, e eu ainda apanhei algumas manifestações aqui na ilha do Faial, nomeadamente a
Procissão de Cornos em que o confrade orador trazia uma grande galhadura e dirigia-se aos
homens dizendo:
passado, e eu ainda apanhei algumas manifestações aqui na ilha do Faial, nomeadamente a
Procissão de Cornos em que o confrade orador trazia uma grande galhadura e dirigia-se aos
homens dizendo:
– Venham beijar o corno que bem o merece.
Alguns, porque tinham sentido de humor, beijavam; outros, porque a cabeça lhes pesava
davam o cavaco e a coisa acabava muitas vezes ao murro e à chapada. Outras vezes eram as
próprias esposas dos visados que ficavam abespinhadas e, furiosas com a situação, diziam:
davam o cavaco e a coisa acabava muitas vezes ao murro e à chapada. Outras vezes eram as
próprias esposas dos visados que ficavam abespinhadas e, furiosas com a situação, diziam:
– Malandros! Eu nunca preguei desfeitas ao meu homem. Vão p´rás vossas mulheres e
ponham as mãos na cabeça!
É óbvio que tudo isto era apimentado com o melhor vernáculo vicentino que aqui não vou
reproduzir por respeito aos nossos leitores.
ponham as mãos na cabeça!
É óbvio que tudo isto era apimentado com o melhor vernáculo vicentino que aqui não vou
reproduzir por respeito aos nossos leitores.
Para que a política e os políticos não nos deixem com um grande par de cornos, há que
consolidar, todos os dias, o 25 de abril. Porque em 49 anos de democracia, Portugal modernizou-
se, mas não se desenvolveu convenientemente. Por isso, em tempo de muitas e variadas crises, é
preciso recuperar o orgulho e a autoestima, e não deixar morrer a esperança.
consolidar, todos os dias, o 25 de abril. Porque em 49 anos de democracia, Portugal modernizou-
se, mas não se desenvolveu convenientemente. Por isso, em tempo de muitas e variadas crises, é
preciso recuperar o orgulho e a autoestima, e não deixar morrer a esperança.