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Este conteúdo fez parte do "Blogue Graciosa Online", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de Um poema escatológico
Graciosa Online 02 mai, 2022, 12:02

Um poema escatológico

Crónica de Victor Rui Dores

O meu avô, José Maria das Dores, que viveu toda a vida na ilha Graciosa e era homem de
poucas letras, praticava, sem saber, aquilo a que hoje chamamos de agricultura biológica. Aliás,
todos os nossos avoengos a praticavam. E dou-vos este exemplo: a primeira coisa que o meu avô
fazia depois de acordar e levantar-se da cama era precisamente dirigir-se ao quintal, com o bacio
em punho, para despejar a urina (que vertera durante a noite) para cima das couves e das
bananeiras…

Por outro lado, nesses tempos pretéritos, sobretudo nos meios rurais, a retrete ficava no
meio do quintal, junto às hortas e ao curral do porco. Pelo menos era assim em casa do meu avô.
Ora, passadas que são mais de cinco décadas, eu continuo a acreditar que a nossa
agricultura precisa de estrume. Porque é certo e sabido que os químicos nos vão matando
lentamente… 
Um poema escatológico
Por isso, e a propósito, tomo a liberdade de partilhar convosco um poema (escatológico),
da autoria do poeta João de Vasconcelos e Sá, avô do fadista António Pinto Basto, e lido por
aquele no decorrer de um jantar de Domingo de Carnaval no dia 13 de fevereiro de 1934. Um dos
comensais era o sisudo Leovegildo Queimado Franco de Sousa, a quem o poema é dedicado,
então Ministro da Agricultura do governo de Salazar. Pretexto (ou pré-texto) do poema: verificava-
se, em Portugal, uma grave crise de adubo. 
“Ao Exmo. Ministro da Agricultura – Exposição 
Porque julgamos digna de registo a nossa exposição, senhor Ministro, erguemos até vós,
humildemente/ uma toada uníssona e plangente em que evitámos o menor deslize/ e em que
damos razão da nossa crise. 

Senhor: em vão esta província inteira/ desmoita, lavra, atalha a sementeira, suando até á fralda
da camisa. Mas falta-nos matéria orgânica precisa na terra, que é delgada e sempre fraca! A
matéria em questão chama-se caca. Precisamos de merda, senhor Soisa! E nunca precisamos de
outra coisa. 

Se os membros desse ilustre ministério/ querem tomar o nosso caso bem a sério, / se é nobre o
sentimento que os anima/ mandem-nos cagar toda a gente em cima / dos maninhos torrões de
cada herdade. E mijem-nos, também, por caridade! 

O Senhor Oliveira Salazar / quando tiver vontade de cagar/ venha até nós! Solícito, calado/ busque
um terreno que estiver lavrado, deite as calças abaixo com sossego/ ajeite o cu bem apontado ao
rego/ e… como Presidente do Conselho/ queira espremer-se até ficar vermelho! 

A Nação confiou-lhe os seus destinos? /Então comprima, aperte os intestinos; e… se lhe escapar
um traque, não se importe/ … quem sabe se o cheirá-lo nos dará sorte? 

Quantos porão as suas esperanças/ num traque do Ministro das Finanças?… 

E também quem vive aflito, sem recursos, / já não distingue os traques dos discursos. Não precisa
falar! Tenho a certeza/ que a nossa maior fonte de riqueza/ desde as grandes herdades às
courelas, / provém da merda que juntarmos nelas. Precisamos de merda, senhor Soisa!/ E nunca
precisámos de outra coisa. 

Adubos de potassa? Cal? Azote? / tragam-nos merda pura, do bispote! E de todos os penicos
portugueses / durante pelos menos uns seis meses, /sobre o montado, sobre a terra campa/
continuamente nos despejem trampa. 

Ah terras alentejanas, terras nuas; desespero de arados e charruas; quem as compra ou arrenda,
ou quem as herda/ sente a paixão nostálgica da merda… Precisamos de merda, senhor Soisa! / E
nunca precisámos de outra coisa. 

Ah merda grossa e fina! Merda boa/ das inúteis retretes de Lisboa!… Como é triste saber que todos
vós/ andais cagando sem pensar em nós? 

Se querem fomentar a agricultura / mandem vir muita gente com soltura. Nós daremos o trigo em
larga escala/ pois até nos faz conta a merda rala…

Ah, venham todas as merdas à vontade, / Não faremos questão de qualidade, / formas normais ou
formas esquisitas/ E, desde o cagalhão às caganitas, / Desde a pequena poia á grande bosta/ de
tudo o que vier, a gente gosta.

Precisamos de merda, senhor Soisa! / E nunca precisámos de outra coisa”.
Ao que parece, o Ministro da Agricultura não gostou muito da brincadeira e engoliu em
seco… 




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