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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de O “Sorriso” da Adelaide…
Comunidades 21 abr, 2008, 16:49

O “Sorriso” da Adelaide…

Para Adelaide Freitas

Abril é um mês caprichoso. Dias pendulares entre a inquietude do verão que se despede brindando-nos com manhãs ensolaradas,luminosas alternadas com intensas ondas de frio,geadas cobrindo de branco a paisagem serrana enquanto no litoral a chuva não dá sossego e rajadas do Vento Sul varrem as ruas e indomáveis tocam as ondas do mar num alucinante bailado. É o nosso Outono e a vossa Primavera. Amor e Vida. Estações da fecundação e do renascer. Ambas intempestivas, fazendo lembrar o poema de T.S.Eliot: "Abril é um mês cruel, gerando lilases em terra morta, misturando memória e desejos, caldeando raízes adormecidas com chuvas primaveris (…)"

Tenho às mãos o ótimo romance "Sorriso Por Dentro Da Noite" da escritora açoriana,nascida num abril da Achadinha (Nordeste),na Ilha de São Miguel. Falo de Adelaide Freitas, uma mulher de fala suave que na escrita se agiganta e é voz forte a ecoar por terras açorianas, as insulares ou as de "emigração tecidas" espalhadas no mundo. Já li muito sobre o seu romance "Sorriso Por dentro da Noite "e sei da imensa repercussão que vem causando nos meios literários açorianos e não só. Pois, jornais,suplementos literários e revistas de Portugal, da América e do Brasil e escritores como Daniel de Sá, Katherine Vaz, Álamo Oliveira, Ana Marques Gastão, Luiz Antônio de Assis Brasil, entre outros escreveram sobre seu belíssimo livro.

Assim, não constituiu nenhuma surpresa o que o adentrar nas suas páginas me revelou. Até porque há muitos anos conheço a professora Adelaide, a investigadora competente, a profissional dedicada e preocupada com as mazelas sociais tendo desenvolvido um reconhecido trabalho quando esteve à frente do Instituto de Acção Social da Região Autónoma dos Açores.

Mas, esta Adelaide eu não conhecia. Não conhecia a mulher sensível que no seu romance de estréia desvenda as angústias, o desabrochar e as descobertas de Xana – menina e mulher. Adelaide e Xana, uma e outra, frente a frente ou dentro por dentro.

Uma escrita cheia de ternura, mas não leve. Achei forte, um suspiro fundo,não consegui nem respirar a pausa da vírgula. Denso do princípio ao fim. Um lamento. E, lamento não tem música que embale.

A autora transvestida, ora na roupagem da personagem ora sendo voz da narradora, se revela por inteiro partilhando histórias de vida, sentimentos tão seus numa corrente de lavas vulcânicas a inundar o mar e ali se perpetuar no correr do tempo, endurecendo, plasmando o cerne, sem contudo empedernir o coração da mulher.

Desnuda toda uma comunidade com o vigor da palavra escrita, numa crítica social profunda aos estereótipos sociais e culturais que permeiam o viver apartado de afectos partidos, distantes e postos em outras geografias tendo o mar pelo meio. No mosaico das emoções desvenda a alma das gentes, do lugar e da Ilha. Fala de ausências e presenças, de sonhos, de voos alçados pelo imaginário, de esperanças misturadas aos anseios da descoberta do mundo maiúsculo, finito e infinito no perpassar do tempo. Fala do pequeno mundo de Xana, sufocada em seu microcosmo, na cegueira de uma freguesia presa num emaranhados de fios urdidos em códigos sociais e morais, em suas crenças e valores coletivos.

Com firmeza conduz a narrativa e transita, livremente, rompendo círculos desse universo, na complexa teia de relações sociais, na construção de cada personagem e de histórias alimentadas por lembranças ou registros das suas memórias e vivências na Achadinha, no extremo da Ilha de São Miguel. Mostra com sabedoria e emoção profunda os caminhos de tantas vidas marcadas pelo fenômeno da emigração, pelo multiculturalismo, por conflitos sociais, pela condição de estar na Ilha ou fora dela ou, ainda, pelo retornar.

Não quero aqui reflectir sobre a questão da diáspora que a história e seus personagens necessariamente nos remetem. Pois,o romance fez-me sentir dentro de um mundo onde a fronteira entre a realidade e a ficção é muitíssimo tênue. Onde o mundo real e o surreal se encontram não no vazio dos dias, mas no olhar de dentro, da alma, que reflete a esperança, a centelha da vida.

Quero pensar na mulher e nas mulheres outras que passaram a vida olhando o tempo passar sem saírem de seus casulos, hermeticamente fechados, sem darem a chance de se descobrirem, de se conhecerem, nos seus encantos e desencantos, nos seus sorrisos e lágrimas choradas, no corpo adormecido e nunca despertado pelo toque da paixão, na palavra não dita, no carinho não recebido, ansiado infinitamente e desprezado vezes sem fim.

Sim. Quantas outras Xanas, botão entreaberto ou rosa mulher, depositaram suas esperanças e sonhos nas mãos deste imenso mar circundante? Quantas? Nem o vento, nem a gaivota que risca o céu ligeiro em voos rasantes, nem a onda que castiga a pedra revela. Só o mar crispado, indomável em suas andanças e retornos. Só o mar cavado que abraça as Ilhas e que assusta o homem com seus rumores. Só o mar sereno, amante, conhece e guardou para si o sorriso de Xana nas suas entranhas, na noite abissal e o reteve como um relicário sagrado. Tantos sentimentos traduzidos na música suave e triste da sua palavra escrita e que, afinal, emerge neste lindo "Sorriso Por dentro da Noite".


Baseado no texto "Carta para Adelaide" e originalmente publicado no SAAL /2005

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