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"As bandas, na realidade, estão paradas. Não há muito por onde trabalhar e nem é um trabalho que se possa fazer em regime de teletrabalho", afirmou hoje, em declarações à agência Lusa, o maestro Marco Torre, da Banda Fundação Brasileira (ilha de São Miguel) e músico da Banda Militar dos Açores.
O arquipélago é a região do país com mais bandas filarmónicas, mantendo viva uma tradição que remonta ao século XIX e com uma função cultural e social relevante.
Quase todas as freguesias têm uma banda e há freguesias pequenas que chegam até a ter duas.
Com o cancelamento das festas religiosas de verão e dos Impérios do Espírito Santo, devido à pandemia, "as bandas enfrentam um grande problema a nível económico", referiu Marco Torre, lembrando que aqueles serviços começavam já a seguir à Páscoa.
"O verão é altura para ganhar algum dinheiro. Vai ser muito complicado sobreviver no inverno", lamentou o maestro, que é também o apresentador do programa Filarmonia, na Antena 1/Açores.
Marco Torre lembrou que as bandas têm uma série de compromissos financeiros – o pagamento de maestros, instalações e instrumentos.
"Vamos imaginar que a situação vai durar mais um mês, na melhor das hipóteses, e que daqui a um mês as bandas voltam a trabalhar. Mas as filarmónicas não têm serviços até final do ano e, apesar disso, têm de pagar um maestro para ensaiar. E como o vão fazer sem serviços para angariar fundos?", questionou.
Apesar dos apoios atribuídos pelo Governo dos Açores às filarmónicas, Marco Torre disse que até neste aspeto há alguma incerteza: "Na região há um apoio direto do Governo dos Açores. E estes apoios contemplam sempre um projeto a apresentar. Mas o vírus apareceu no início do ano e, não conseguindo cumprir os objetivos propostos, já que foram canceladas várias festividades, será que vamos receber na mesma os subsídios previstos?".
Ainda assim, segundo o maestro, algumas bandas açorianas estão a publicar trabalhos antigos ou a promover o lançamento de novos, através das redes sociais ou na plataforma Youtube, para manter "os músicos em forma".
"Utilizamos às vezes as redes sociais para motivar e dar algum ânimo, promovendo algumas atividades em que se gravam hinos ou marchas. Mas, isso é sempre muito complexo para as filarmónicas, porque implica ter alguns instrumentos de multimédia", explicou o maestro, acrescentando não haver nos Açores "uma única banda em atividade neste momento a ensaiar".
A região contava com uma Federação de Bandas dos Açores, agora inativa.
A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 133 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 436 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 599 pessoas das 18.091 registadas como infetadas, segundo o balanço de quarta-feira.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.