A recuperação de 75 hectares de trufeiras nos Graminhais, São Miguel, vai servir de referência num projeto europeu, revelou hoje a SPEA, defendendo a restauração daqueles habitats para combater a seca em várias ilhas açorianas.
Em declarações à agência Lusa, o coordenador nos Açores da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), adiantou que o projeto ‘SpongeBoost’, que inclui dez países europeus, como a Estónia, a Alemanha ou a Bélgica, vai ter os Açores como “caso de demonstração de sucesso na recuperação do habitat” das turfeiras.
“Há um trabalho feito aqui nos Açores, que não é conhecido por muitos, mas que já é um projeto e uma ação de referência a nível europeu. Vieram-nos buscar pela nossa experiência prática no restauro de trufeiras”, avançou Rui Botelho.
Nos últimos 12 anos, a SPEA adotou políticas através de “múltiplos projetos” para “conservação e restauro” das trufeiras da zona dos Graminhais, no concelho do Nordeste, na ilha de São Miguel.
Nas décadas de 60 e 70 do século XX, o planalto dos Graminhais teve uma “intervenção humana pesada” para ser transformado em áreas agrícolas e de pastagem através da “drenagem dos terrenos”, de acordo com Rui Botelho.
Para restaurar as turfeiras, as intervenções da SPEA procuraram “reter as águas” e “fechar as zonas de drenagem”, de forma a “promover o desenvolvimento da vegetação natural que está habituada ao reencharcamento constante”.
“O projeto foi agarrar em 75 hectares, que estavam em áreas baldias e tinham muito pouco aproveitamento para o gado porque são pastagens de grande altitude. Tentámos que estas zonas voltassem a ter o habitat natural que tinham no passado. Está numa fase de transição. Neste momento podemos considerar uma trufeira de cobertura”, detalhou.
O investigador, formado em Biologia e em Ordenamento do Território, realçou a importância das trufeiras, que “são fundamentais ao nível da retenção e recarga de água” e no “controlo dos sedimentos arrastados”.
A recuperação daqueles habitats, avisa, permite combater a seca e evitar derrocadas.
“Com exceção de Santa Maria e Graciosa, que são ilhas mais baixas, todas as outras ilhas que neste momento estão com falta de água e de qualidade da água, em vez de estarmos a fazer grandes investimentos em bacias artificiais e outras medidas com tempo de vida útil reduzido, estes habitats naturais fazem esse trabalho pelo homem”, alerta.
De acordo com a informação disponibilizada pela SPEA, as turfeiras atuam como esponjas naturais, evitando enxurradas e contribuindo para que as ribeiras tenham água durante o verão.
O principal musgo das turfeiras dos Açores (Sphagnum) tem capacidade para reter 20 vezes o seu peso em água, permitindo “armazenar milhares de litros”.
O projeto SpongeBoost é financiando pelo Horizon Europe, o programa de financiamento da Comissão Europeia dedicado à investigação e inovação científica.
Lusa