"No fim, vai rondar sempre as 220/230 touradas por ano, mais num mês, menos noutro, mas ultimamente a média é sempre a mesma", adiantou, em declarações à Lusa, o aficionado, que todos os anos faz uma recolha do número de touradas na ilha Terceira.
Ao contrário das touradas de praça, as tradicionais touradas à corda da ilha Terceira realizam-se nas ruas, em percursos limitados por riscos e encerrados aos automóveis, onde correm quatro touros (um de cada vez), amarrados por uma corda que é segurada por pastores.
A população assiste nas casas ou na rua, de forma gratuita, mas um estudo realizado, em 2016, pelo economista Domingos Borges estima que as manifestações taurinas movimentem um montante correspondente a 2,47% do Produto Interno Bruto (PIB) dos Açores e a 11,4% do PIB da ilha.
"As festas do Espírito Santo, os bailinhos e as touradas é que mexem com a economia da ilha", frisou José Henrique Pimpão.
Em 2017, entre 01 de maio e 15 de outubro, contaram-se 215 touradas à corda nas várias freguesias da ilha Terceira, mais de metade tradicionais (ligadas a festas religiosas), chegando muitas vezes a decorrer quatro e cinco em simultâneo.
Amante de touradas à corda desde criança, José Henrique Pimpão, agora reformado, não vai a todas, porque é impossível estar em vários locais ao mesmo tempo, mas assiste a mais de uma centena por ano.
O aficionado considera que a quantidade de touradas à corda está a afetar a qualidade das manifestações taurinas, porque os ganadeiros já não conseguem selecionar apenas os touros mais bravos, mas alega que o número é uma resposta à procura da população.
"Quando eu era rapaz dava-se 50, 60, 70 touradas por ano e é claro havia só cinco ou seis ganadeiros. Havia menos touradas, mas mais qualidade", salientou.
Atualmente, existem 13 ganadarias só na ilha Terceira, que têm adeptos, como se se tratasse de clubes de futebol.
"Até é engraçado ver as pessoas a discutirem como discutem no futebol. Eles brincam com aquilo. Têm aquela amizade à ganadaria, mas discutem mais para rir e para passar um bocado", adiantou José Henrique Pimpão.
Mais do que a lide do touro, que é feita por "capinhas" amadores, sem utilizar ferros, o aficionado destaca o ambiente das touradas à corda, em que se fazem "amizades para a vida".
A população abre portas a amigos e desconhecidos para assistirem à tourada nas janelas e varandas e, quando os touros regressam às gaiolas de madeira em que são transportados, oferece comes e bebes, no que vulgarmente se chama de quinto touro.
Os pastores, que seguram a corda para que o touro não passe para lá do arraial, fazem-no de forma gratuita e os próprios ganadeiros têm atividades extraordinárias, porque o negócio não é rentável.
"As câmaras têm reduzido nas licenças, mas ainda há uma despesa elevadíssima. Muitas vezes o ganadeiro não recebe metade do que custa a licença e é o protagonista do espetáculo. Tem de tratar durante 365 dias dos touros", apontou José Henrique Pimpão.
As touradas à corda continuam a "arrastar multidões" e José Henrique Pimpão acredita que a tradição não corre risco de desaparecer, porque atrai "muita juventude".
O aficionado defende mesmo que estas manifestações taurinas podem ser um cartaz turístico da ilha Terceira, desde que sejam integradas em pacotes temáticos, devidamente organizados.
"Eu sei que as pessoas que vêm acabam por gostar muito, não só do touro, mas do ambiente. O terceirense é muito recetivo", sublinhou, alegando que no ano passado a Academia do Bacalhau da Ilha Terceira organizou a participação de 500 pessoas numa tourada e "foi um sucesso".