Na intervenção final do debate do Plano e Orçamento, o socialista, que liderou o executivo açoriano entre 2012 e 2020, disse ser "tempo de dizer basta" à "perda de dignidade do parlamento dos Açores", a "expressão máxima da vontade do povo açoriano".
"É tempo de separar águas e, se necessário for, dar a palavra ao povo. Da nossa parte, não receamos nem tememos a vontade do povo açoriano. Vamos a isso. Deixe que o povo se manifeste. Prefira a liberdade da vontade dos açorianos aos grilhões da submissão politíca", declarou Vasco Cordeiro, na Assembleia Legislativa Regional, na cidade da Horta, ilha do Faial.
O líder parlamentar do PS/Açores salientou que a votação do Orçamento da região para 2022 vai traduzir a "chancela parlamentar às públicas ameaças" e às "secretas cedências", referindo-se às negociações entre o Chega e os partidos que fazem parte do governo (PSD, CDS-PP e PPM).
"O custo de o Governo ter cedido não é só o custo financeiro ou o custo político. É o custo de uma dignidade de uma região. É o custo da dignidade de um povo", apontou.
Vasco Cordeiro criticou ainda o "processo de chantagem, de desrespeito e de insulto" promovido pelas "alianças queridas" do presidente do executivo regional, José Manuel Bolieiro.
"O Governo Regional apregoa o diálogo e a concertação, mas desde muito cedo que já enterrou ambos no mais fundo da gaveta", afirmou.
O deputado disse ainda que o PS não apresentou qualquer proposta de alteração ao Plano e Orçamento para 2022 porque o Governo dos Açores não explicou as "fundadas dúvidas" dos socialistas sobre o "buraco nas previsões" contempladas naquele documento.
"Pela recusa em esclarecer o que nunca deveria ter sido motivo de dúvida, ou seja, a credibilidade e a fundamentação das previsões constantes do Plano e do Orçamento, o Governo Regional impediu uma participação responsável, construtiva", afirmou.
O líder do PS/Açores criticou também a postura do Governo açoriano que se "diz submerso numa pesada herança de dúvidas", mas que "aumenta as nomeações políticas" e as "remunerações dos nomeados".
"Se alguém estivesse submerso em dívidas do passado e procedesse da maneira como este Governo tem procedido, não só seria perdulário, mas seria também profundamente incompetente", afirmou Vasco Cordeiro.
A Assembleia Legislativa é composta por 57 eleitos e a coligação de direita (PSD/CDS-PP/PPM), com 26 deputados, precisa de mais três parlamentares para ter maioria absoluta.
A coligação assinou um acordo de incidência parlamentar com o Chega e o PSD com a Iniciativa Liberal (IL).
A IL tem ameaçado chumbar a proposta de orçamento, tendo dito à Lusa, na sexta-feira, que vota a favor se for contemplada uma redução de "15 a 20 milhões de euros" no endividamento da região, situado nos 170 milhões de euros. O seu deputado único, Nuno Barata, revelou hoje que o executivo aceitou uma redução de mais de 18 milhões de euros.
O deputado único do Chega, José Pacheco, anunciou, também hoje, que vai votar favoravelmente, depois de o Governo Regional ter aceitado "as condições estabelecidas", apesar de a direção nacional do partido ter pedido na semana passada para que a estrutura regional retirasse o apoio ao executivo.
O deputado independente, Carlos Furtado, ex-Chega, disse na sexta-feira que iria "honrar" o seu "compromisso" firmado com o Governo na votação do Orçamento.
O parlamento conta ainda com mais 28 deputados: 25 do PS, dois do BE e um do PAN. Todos estes partidos anunciaram já o voto contra o Orçamento.